Caio Rudá de Oliveira
Um desassossego à noite me veio qual peça de arte.Não me concentrava senão no balançar
da cortina ao vento, uma rubra pintura expressionista
em penumbra, cena fatídica de filme noir.
Desconfiei de contratempos em sol na bexiga,
minha mera gaita de foles desafinada.
Romance meu sem início nem fim,
somente acompanhado meio repentino,
a concepção sorrateira desse poema.
É quando a noite, em eternidade, vira poesia...
ResponderExcluirMuito bom...muito mesmo...
Gostei bastante, Caio
ResponderExcluirSobretudo das entrelinhas "sonoras", mescladas as imagens evocadas - é tipo de poema que não apenas se lê, pois não se restringe ao papel.
(aliás, acho que todos poemas deveriam ser assim, em uma escala ou outra - sair do plano, ganhar dimensões)
Diria que o poema também ficou com clima noir - fotografou um instante, cheio de sedução e mistério. Muito bom!
Beijus
Eba! O Estúdio voltou às atividades,
ResponderExcluirainda que em fase de transição.
Senti saudade!
Desassossego é uma palavra
de pronúncia deliciosa, Caio!
O poema já começou bem:
associou a insônia
à vinda sorrateira da arte.
Tantas vezes acontece assim...
A inspiração vem do nada:
do balançar de uma cortina,
da penumbra,
do ócio...
Gostei muito!
Um beijo.
As engrenagens: poema bem alinhavado para ser lido. É muito sonoro e tem rimas agradáveis - algumas exóticas: "balanÇAR - filme nOIR". Como os versos, a partir do segundo são sintaticamente dependentes - são um período composto - pode ser lido ininterruptamente. Isso, para alguns, pode ser considerado meio pecaminoso, porque aproxima o poema da prosa. Como não é o meu caso, aprecio a construção prosística, já que mais elementos estão a favor da poesia (leia-se RITMO).
ResponderExcluirA força motriz: este poema aproxima-se de algo que gosto muito em poesia: a captura do instante, uma fotografia em palavras. Há uma boa quantidade de expressões "meio que" herméticas, como nos versos 5 e 6:
"Desconfiei de contratempos em sol na bexiga,
minha mera gaita de foles desafinada."
Assim como todo texto hermético, é difícil estabelecer completamente o ponto da metáfora. Mas, nos 'arredores' do poema, consegui captar, ao menos, a finalidade do poema: um fim em si mesmo, o surgimento do próprio texto como fruto da insônia. E descascando e abrindo este fruto, percebemos o que é a própria coisa: o texto e a insônia (do poeta):
"Um desassossego à noite me veio qual peça de arte"
que é bem descrita nesse curto espaço de poucas palavras.
Um poema eficaz, bonito, não muito tocante - não para mim - mas um bom poema.
Parabéns, Caio. Obrigado pelo retorno.
Como já foi dito, é uma poesia que captura um breve instante. Não sei se é sonho ou realidade, mas fico com o primeiro. Esse sonho permite a abertura para o eu-lírico divagar e contemplar um momente de e para a arte.
ResponderExcluirGosto de poemas assim, pois eles, vagarosamente, trazem, com precisão, as imagens à nossa mente.
Continuando o cometário acima. Trazendo as imagens à nosso mente, nos faz sentir as próprias personagens.
ResponderExcluirSenti a poesia como um balançando da cortina...soprando. Muito boas imagens e cadencia.Para ser lido neste instante, 15 graus, café quente e mãos geladas.
ResponderExcluirPoema visual, sensitivo e metalinguístico. Gostei muito da sensação de desconforto repentino que leva a escrever, entender e (re)conhecer-se.Há palavras que trazem sensações-imagens e conferem uma concisão ao pequeno texto como "expressionismo" e "noir". Ah! achei a informalidade da rima um ponto alto!Gostei muito do poema :)
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