De um lado,
A janela quadrada
Recorta um céu mudo
Sem graça e cor de chumbo
De outro lado,
Beiral, rouxinol
Telhado e flor
Tomam sol e convidam
Ao poema latente
Na cena ideal e tão possível
Que nenhum verso inspira
De frente,
O horizonte rubro
Guarda um murmúrio
Sobre o muro da linguagem
Que se precipita
Na dimensão da frase
E desliza em imagem
Esticada entre o nada e o texto
- Na boca do precipício -
Vertigem das palavras itinerantes
Escapando pelo fundo em que me abismo
Imagem:Tulip, porSlippery Devil
₢ Beatriz M. Moura
Compulsão Diaria
₢ Beatriz M. Moura
Compulsão Diaria
pessoal: estou em férias mas para não quebrar a ordem de postagem deixo meu poema.
em função das férias não comentarei os poemas.
Abraços gerais
Bea
Oi Bea, gostei muito da descrição visual no poema. A penúltima estrofe foi a que achei mais encantadora pela presença da questão da construção poética. Belo devaneio metalinguístico!Abraço!
ResponderExcluirOi Bea
ResponderExcluirObrigado por fugir um pouquinho das férias para compartilhar conosco teus versos!
nada como uma pessoa comprometida com o que faz - -e assim que o estúdio se mantém firme e forte, mesmo em período de ressaca. (risos)
Agora vamos ao que interessa:
Nos primeiros versos tive aquela sensação de poema-por-encomenda, sabe? Aquele que criamos pescando uma inspiração (nesse caso nitidamente visual), mas que não toma conta, que fica "in box". Entretanto as últimas estrofes aprofundaram, rasgaram a embalagem e me agradaram muito!
"...Sobre o muro da linguagem
Que se precipita
Na dimensão da frase
E desliza em imagem
Esticada entre o nada e o texto
- Na boca do precipício -
Vertigem das palavras itinerantes
Escapando pelo fundo em que me abismo"
(Que beleza - E visualmente também - Parabéns!) Beijus
Eu gostei muito, Bea!
ResponderExcluirPreferi a versão que li noutro lugar... (risos)
Apesar de, ainda lá, haver feito pequenos ajustes
- parte do ofício.
Um beijo!
li este poema assim:
ResponderExcluirde um lado, o nada - o impedido, o suprimido, o que não flora, é imóvel, puxa à morte
de outro, o tudo - mas tudo é tanto, que afoga, sufoca, e no fim, também mata
em frente, a síntese - o que é possível: linguagem e imagem, compondo o verso em movimento... ele pulsa, não é estático, e sua vida "esticada entre o nada e o texto", é o que suporta o corpo, livrando-o do abismo que tanto tenta......
linda lição, bea... real, imaginário e simbólico entrelaçados no Synthome inventado de uma poesia feminina!
beijo
Obrigada às três queridas que comentara:
ResponderExcluirJu, procede o sentimento de mal estar no começo do poema. Mas, não que fosse uma epécie de obrigação e sim o estranhamento frente à idéia do poema, às primeiras letras..eu quis dar esse efeito.
Márcia, como sempre vc me lê e a todos aqui com a escuta apurada da excelente poetisa que é. Escuta de poetisa é diferente de qualquer outra. E a sua é sempre bacana. Não só comigo mas com todos aqui. Eu juro que não pensei em nada disso que vc leu. Mas, agradeço o reconhecimento e por ter me mostrado que essas coisas são mesmo inconscientes. Eu não pensei nisso. Mas o Isso, como vc me disse uma vez, insiste;)))
Renata, você é uma grande parceira. E aqui vou mostrar a todas o que você é capaz de fazer.
Pessoal Renata, eu e mais duas poetisas temos um blog Mexe-Mexe Poesia onde além de estudos de textos, poemas de outros poetas nós nos editamos. Um mexe-mexe pra valer com exclentes discussões.
Eu coloquei o Rubro..lá e vejam que belíssima mexida de Renata
De um lado,
A janela quadrada
Recorta um céu mudo
Sem graça e cor de chumbo
De outro,
Beiral, rouxinol
Telhado e a flor
Tomam sol e convidam
Dentro da cena ideal
Ao poema possível
Mas não inspiram
De frente,
O horizonte rubro
Guarda um murmúrio
Sobre o muro da linguagem
Que se precipita
E desliza em imagem
Na dimensão da frase
Esticada entre o nada e o texto
Na boca do precipício
A vertigem das palavras itinerantes
Escapam pelo fundo em que me abismo
Vejam como ela manejou os versos e rearrumou tão graciosamente as palavras sem alterar em nada o sentido. Ao contrário, Renata ressaltou o significado. Eu gostei demais assim.
Resolvi compartilhar porque já fizemos mexe-mexe aqui, lembram;))
Beijos.
Vou esticar minhas férias até o final do mês.
Lá no fórum eu me explico, ok??
Beijos saudosos nas 3 lindas.
Ah, mais uma coisa. Meu marido detesta, nesse poema e em todos a palavra "rouxinol" . ele me disse que não existe no Brasil. Putz, mas eu juro que escutei. Tá bom aqui é ...um canto bem no começo da manhã, um gorjeadinho lindo. como ng me diz o nome certo fica rouxinol ou vcs têm o nome desse pássarinho?
ResponderExcluirObrigada, Bea, pelas palavras!
ResponderExcluirQuanto ao pássaro, até Romeu e Julieta já discutiram, na obra de Shakespeare, se o canto que ouviam, após aquela noite de amor, seria de uma cotovia ou de um rouxinol.
A dúvida persiste: não sei se há cotovias no Brasil! (risos)
Beijo a todos.
Descobri, Renata. Aqui no Brasil é cambaxirra!!! Corruíra. rsrs. eu acho:)
ResponderExcluirQue nome, hein?
ResponderExcluirIsso cabe em algum poema? risos
Estive por aqui me informando nos seus escritos!! Abraços Ademar!
ResponderExcluirPalvaras e cores em sintonia...Tudo de bom!
ResponderExcluirBea, creio eu que, independente do nome que tu dê a ele, o passarinho continuará cantando nas tuas manhãs. E é isso o que importa!
ResponderExcluirEle mesmo não tem ciência do seu nome - então, acho que não se ofende de ser chamado "rouxinol", "amarelol", ou o que mais te convir! risos
(Isso foi só a minha essência bióloga revoltada com classificações, falando por si) beijus
E "corruíra" ou pior, "cambaxirra", não rima com os teus versos! risos
ResponderExcluirLindo poema, Bea. Não é meramente um poema metalinguístico - palavrinha fashion... - mas um poema "metapoético": no centro das quatro direções está o poeta. Em cada um dos lados o real (o mundo), a inspiração (o rouxinol e etc), a linguagem - emotiva e racional (o horizonte rubro e o muro), e o próprio ato de fazer poesia (o abismo).
ResponderExcluirBea, peço minhas desculpas por ter tardado tanto em comentar seu texto. Confesso que também não o havia lido, porque, enfim, havia me afastado inteiramente do Estúdio. São os mistérios desse precipício em que nos abismamos. Perdão.
Excelente poema. Excelente.