sexta-feira, 18 de setembro de 2009

transparências

luz baça de manhã nublada

na quase primavera
as palavras ficam assim
distorcidas de vítreos efeitos
tão translúcidas e brancas
que ninguém pode dizê-las

mas o olhos
seres autônomos e encantados
movem-se como bússolas, imantados,
e captam o brilho oculto das estrelas

5 comentários:

  1. Vim matar a saudade! : )

    "na quase primavera
    (...)
    os olhos
    (...)
    captam o brilho oculto das estrelas"

    Bonito, Márcia!
    Beijo.

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  2. Palavra, apenas, não move tanto...
    O olhar diz muito, muito mais.
    E é quem pode de fato "ver".

    Muito bonito!

    Abraços!

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  3. Marcia... esse poema é tão lindo que eu li e reli, diversas vezes, buscando palavras para comentá-lo e não acho outra além de "perfeito"... Parabéns!

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  4. Os poemas da Marcia dispensam meus comentários, porque eu falo demais. E, falando demais, eu posso tirar conclusões precipitadas - ou criar definições que, per se, inexistem.

    A Marcia, mais que muito poeta medalhão, é uma das minhas referências poéticas. Neste aqui, que é um poema excelente no que diz respeito à objetividade (e isso não é caráter somente da prosa), eu poderia apontar diversas coisas nas quais muitos de nós poderíamos nos espelhar.

    1) (como já dito) a objetividade: um poema pode ser sucinto sem deixar de ser tocante ou evocar o raciocínio ou (de preferência) ambos. Com brevidade, diz o que tem que dizer, e ainda assim, cria um pequeno sistema solar de boas...

    2)... metáforas: uma boa metáfora vale por mil palavras. Posso ser levado a crer que se fala de... uma manhã (uma tarde, uma noite, um intervalo de tempo cronológico...) nevoenta, em que sabemos que o céu, ou ensolarado ou estrelado, está lá. Mas essa 'imagem' cujo significado está deslocado, alhures, ou associado a outros significantes, é a cereja do sundae (que clichezinho cafona... quem ainda come sundae?). Dessa maneira, e através de umas pistas aqui e ali, podemos entender que "Transparências" fala de... aquilo que só os olhos sabem ver; não qualquer "aquilo que", nem quaisquer "olhos de ver". No meu entender, é a poesia.

    3) o conhecimento dos atributos daquilo que se quer usar para fazer uma metáfora: é muito bom encontrar atributos - e, preferencialmente, mais de um - de uma coisa, que, indiretamente, associa-se a outra coisa. E é nesse "lapso" que se insere a grandeza de um poema: quanto mais, e mais profundas forem essas ligações, melhor. Aqui, a estrofe que dá as características de autômatos, de bússolas, de ímas, aos olhos, e ainda assim, atribuindo a eles a qualidade de "seres", foi de tirar o fôlego.

    4) faça algo digno de ser imitado: já disse, já repeti, e continuo repetindo. O Saramago sabe e tem muita consciência do que ele faz com a construção de seus parágrafos e seus diálogos. Eles estão lá, ainda que, formalmente, não estejam. E tá assim de neguinho que argumenta que se ele pode, todo mundo pode (mas... não é bem assim). A Marcia Szajnbok aboliu de sua poesia as fórmulas de pontuação e de maiúsculas para iniciar sentenças - ainda que esses sinais, intimamente estejam ali. E eu imitei, porque entendi o sentido disso.

    5) por fim, o início: dê um título para seu poema (seus textos, em geral) para que reflita, resuma e introduza, tudo ao mesmo tempo, o que o leitor vai ler. E, em poesia, que contribua para dar uma deixa da metáfora - sem, necessariamente, desvendá-la.


    Enfim, Marcia, acabei só olhando para a neblina e as nuvens, sem me encantar pela beleza que só se supõe, se deduz, ou se imagina para além do que as palavras dizem. Deve ser porque moro num dos lugares mais bonitos do país, mas que em 11 dos 12 meses do ano permanece tapado de névoa.

    E a todos, minhas sinceras desculpas por toda essa rasgação de seda.

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