Quinta-feira azul de tinta.
Mar e céu de um azul forte.
Azul cortado pelo norte.
Vento nortada
Desnorte.
Nem mar nem céu
Nem fiozinho de horizonte.
Um contínuo cor de tinta
Azul de mar e céu forte.
Nem o afago no céu
Do voo de uma gaivota,
Nem a crista de uma onda.
Só ela rodopiava
Branca de frio e de morte.
Quinta-feira azul intenso
Mar e céu e horizonte.
E só ela muito branca
Dançando ao vento norte.
Quinta-feira azul de tinta
Sem linha de horizonte.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
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Eita que serei a primeira. Voilá
ResponderExcluirolá, Maria, muito prazer.
Beleza de azul, de vôo, de poema. gostei muito
criatividade: gostei do movimento no poema. Espiral pra morte. agrada o uso do significante norte que lança pra corte, forte, desnorte. e não me parecem forçar as rimas. Só vacilei em nortada, não sei o que é. Muito boas as aliterações com as oalavras: Vento, nem, contínuo, onda , tinta, horizonte, linha ..enfim, todas aliteram mostrando uso adequado da linguagem e dando musicalidade.
metáfora; a gaivota e sua mobilidade no imóvel, a morte no alvo de vôo cego, desnorteado, vertiginoso numa manhã plena de cor e luz e beleza nas linhas. O branco das espuma da crista das ondas e das penas da gaivota. lindo.i muito da imagem de quietude atravessada pelo movimento do vento e da gaivota em parafuso, muito branca e seu vôo (infelizmente não consigo não acentuar a palavra.) para a morte. movimento e grau zero de movimento em movimento. belo, belo.
achei que o fim veio de modo abrupto. minha sensação é de que houve pressa no término. E a pontuação, ao meu ver, cliva a musicalidade do poema. Por isso sugiro:
Quinta-feira azul de tinta
Mar e céu de um azul forte,
Azul cortado pelo norte
Vento nortada
Desnorte.
Nem mar, nem céu,
Nem fiozinho de horizonte
Um contínuo cor de tinta
Azul de mar e céu forte,
Nem o afago no céu
Do voo de uma gaivota,
Nem a crista de uma onda
Só ela rodopiava
Branca de frio e de morte
Quinta-feira de azul intenso
Mar e céu e horizonte
E só ela, muito branca,
Dançando ao vento norte
Quinta-feira azul de tinta
Sem linha de horizonte
Maria, mais uma viagem e seu olhar vai longe...
ResponderExcluirO poema tem imagens muito fortes e claras, cheios de tons e muita sonoridade.
Gostei do azul que já foi utilizado antes por vários poetas mas cada um enxerga de uma forma peculiar.
Suas poesias estão mais coesas e tranquilas. Penso que eram excessos de emoções e agora a entrega está branda.
Maria voce vive intensamente a poesia e é o que basta para que ela emocione.
Metáforas- Imaginei um pássaro, imaginei meu vôo de outras épocas, imaginei uma imensidão sem fim. Achei farto em imagens.
Sugestões: Não deixe esta voz calar e que os bons ventos tragam o seu azul.
Criatividade: Há textos e poemas que são construídos meticulosamente, numa construção cuidadosa e demorada, arquitetada com pensar em cada palavra... E há textos e poemas que saem como uma explosão de sentimentos, num fluxo consciente/inconsciente quase incontrolável, carregados de emoções... Creio que este poema da Fátima esteja enquadrado no segundo caso. E dentro deste fluxo emotivo, ela conseguiu tirar expressões ricas como “azul de tinta”, “desnorte”, “fiozinho de horizonte”... Que acredito terem dado o tom lírico ao poema. Sobre a construção em si, não vejo que houve preocupação, a não ser por algumas rimas – talvez pudesse ser melhor explorada.
ResponderExcluirLinguagem: não vi problemas. A única coisa que sugiro ser observada é a pontuação. Há uma única vírgula em todo o poema... talvez, vale-se a pena aboli-la.
Metáfora: há, sobretudo no “azul de tinta”. O que seria o azul de tinta que domina céu e mar e norte e horizonte e não-horizonte? O tom remeteu-me ao frio, à frieza sentimental. O ponto forte da metáfora, a meu ver, está no que considero a primeira parte do poema, que vai de “quinta-feira” até “desnorte”. Nesse trecho, está a essência do poema. Só ele já daria uma poesia maravilhosa!
Outro ponto interessante é a “gaivota”. O que ela representa? A vida/morte, talvez, a rodopiar no fundo azul de tinta? Não sei... mas, gostei do símbolo.
Sugestões:
Acho que o que pode ser mudado é a estrutura do poema (separação dos versos e estrofes). No mais, vai muito bem. Parabéns, Fátima!
1)A questão da pontuação é recorrente também em análise de poesia, coisa muito estranha. Vou evitar fazer um comentário sobre pontuação – e correção de pontuação. Em meus poemas prefiro evitar pontos finais, mas costumo usar vírgulas. Aqui, neste poema, não é um problema digno de uma reescrita (sorry, Bea). Em todo caso, compreendi perfeitamente a intenção. Antes de tudo, a sintaxe deve trabalhar para a semântica. E o que temos aqui é o idioma trabalhando (ou trabalhado) para uma metáfora.
ResponderExcluir3)Considere a sugestão de dividir o poema em unidades de sentido (i.e.: estrofes). A divisão feita pela Beatriz/Compulsão Diária é bem interessante. Não questionemos as escolhas do poeta, mas aquilo que vemos – e entendemos no poema. Portanto, façamos nós, leitores, o esforço para tentar entendê-lo. E, para esse esforço, também eu fiz minha divisão estrófica. Essa é a liberdade do leitor de poesia, uma vez que o poema, depois que o poeta dá-lhe o último ponto final, o perde para sempre – e o poema pertence, agora, à poesia e ao mundo.
3)Esse poema revela-se aos poucos, e não totalmente – porque nem isso é possível. Tentarei em algumas palavras explicar o que li, e justificar o que li.
4)O que temos que descobrir nesse poema é “quem é ela?”. Por oposição, diremos quem ela não é.
“Só ela rodopiava / Branca de frio e de morte”
“E só ela muito branca / Dançando ao vento norte.”
“Ela” (que é branca), opõe-se a:
- o céu
- o mar
- o azul
- (e portanto) a quinta-feira.
“Ela”, dessa maneira, concorda com:
- o norte
- o vento (norte)
- o “desnorteamento”
- o frio
- a morte
- o branco
Outra figura, também através de oposição, mas que não fica evidente é em relação ao movimento:
“Só ela rodopiava” / “Dançando ao vento norte.”
Quanto ao azul indistinto de céu e mar:
“Nem o afago no céu / Do voo de uma gaivota, / Nem a crista de uma onda.”
Então, além dos anteriores, opomos
“Ela”, em movimento X “não-ela”, imóvel.
Assim, podemos buscar a metáfora central (ela) através de outras metáforas. Quem é ela? Minha suspeita: o eu-poético que, mesmo estando na plenitude, na calma e tranquilidade de uma existência à deriva: sem continente, suspensa no azul, sem um destino, conhecido ou desconhecido que seja. O que desestabiliza a “ela” nessa plenitude, que “corta” o indistinto azul de mar e de céu é o vento norte. E que é esse vento norte que a põe em movimento? Minha suspeita (e minha só): a poesia. Bem poderia ser o amor, o desejo de um mundo melhor, ou, enfim, qualquer motivo (do sentido estrido de motivo: o movimento).
5)E é por isso que eu aplaudo em pé esse poema: a verdadeira metáfora não se define. É, e sempre será, uma palavra desconhecida. O poeta, para buscá-la, vale-se de outras metáforas e, ao fim do poema, reinicia o ciclo, e permanece a questão. O poeta que determina sua palavra-secreta está morto. Ou então, virou jornalista.
Ao leitor de poesia, resta encontrar a sua própria palavra-secreta que vista-se das metáforas do poema. E, para esse poema, pus o meu dilema enquanto poeta: o que é poesia?
ResponderExcluirE aqui, encontrei uma resposta temporária: a poesia é, a um tempo, o que me move, me desestabiliza, me desassossega.
Mas, ficou-me ainda uma dúvida, para a qual tenho uma teoria que não cabe aqui: por que “quinta-feira”? não tem nada de Gênese nisso, tem?
De toda forma, meus parabéns, Maria.
i) Criatividade:
ResponderExcluirA imagem criada pelo poema é muito bela, e me fez recordar de Neruda.
Há uma analogia entre o mar e pintura, a meu ver, com aquela repetição de "azul de tinta". Criativo, dentro do que se propõe.
ii) Uso adequado da linguagem:
O poema possui um ótimo encadeamento, com a palavra "azul" servindo como linha-mestra. Seguimos numa sucessão de imagens relacionados ao mar - "azul", "mar", "horizonte", "gaivota" -, dum modo que o poema conduz nosso olhar, primeiro do mar e do horizonte, depois para a gaivota e o céu.
Confesso que o excesso de fonemas linguodentais, de "t"s e "d"s, me soaram um pouco incômodos na leitura, um pouco travados - "quinta", "tinta", "cortado pelo norte", "vento nortada", "desnorte", "horizonte", contínuo", "forte", "gaivota", e aí por diante.
Para um poema com cenas tão líricas, senti um conflito entre as palavras e as imagens.
iii) Metáfora:
Aparentemente, há uma dicotomia entre estabilidade, formalismo, represetando pela linha do horizonte, e a liberdade, representada pelo voo da gaivota.
A minha compreensão é que há uma transposição duma estágio de conformismo para um anseio de libertação.