São sonhos límpidos...que esfacelam-se em dureza brutal
O renome desconhecido, aquele homem-monstro, tão mau
E dúvidas impróprias, caminhar sombrio, celeiro de porcos
Mas será que, no fim, não estamos todos mortos?
In Memoriam dos tristes sonhos, tristes dias, tristes hábitos
In Memoriam dos meus dias, minha dor e meus próprios atos
Constante afirmação do gênero decadente:
Assinar com sangue o livro dos dias e expansão da mente
Pouco a pouco os elementos queimam
O que restam são cinzas de lástimas sangrentas
O que quer que seja, o que quer que queiram
Não destruam com vis agruras lamurientas
Aos braços de quem me lanço - Adeus!
Aquele o qual me entrego - Morpheus!
Aos poucos dilatantes caem - Meu deus!
segunda-feira, 29 de junho de 2009
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(só um breve comentário - depois eu comento mais apropriadamente)
ResponderExcluir"Aquele o qual me entrego - Morpheus!"
Encontrei mais uma "dreamer girl" - isso é ótimo.
E que bela forma de poema.
Aparência, nesse caso (me) importa!
Beijus
Pois é Ju! Meio que já percebi que temos preferências artísticas em comum!Obrigada e um grande abraço!
ResponderExcluirQue poema forte, Carol!
ResponderExcluirJá na primeira estrofe, o estrago de que queria falar:
"será que, no fim, não estamos todos mortos?"
O trecho de que mais gostei foi:
"assinar com sangue o livro dos dias".
Imagem poderosa, bonita.
Fez uma estréia impactante! : )
Uma correção apenas: não seria "aquele AO qual me entrego"?
Um beijo e boa arte!
Gostei da intensidade e da forma como foi composto. A leitura aos poucos assume o sentimento do poeta e isto é muito importante. Tocante. Muito bom.
ResponderExcluirPS: Notei a questão levantada pela Re - seria "ao" qual o mais correto sim - eu não corrigi pq não vi grande necessidade, mas... é bom a autora saber, né? Beijus
ResponderExcluirValeu Renata!Giselle!Ju!
ResponderExcluirrealmente vou ficar mais atenta à questão de preposições :D
obrigada pelos comentários gente!
As engrenagens: É um soneto(?) de versos bem livres, com um esquema de rimas bem particular. Não é muito rígido quanto à métrica, e, como consequência, tem seu próprio e irreproduzível ritmo. Prende-se às rimas mas não se prende pela métrica.
ResponderExcluirO poema começa bem e mal: Bem, porque deixa claro que estamos prestes a entrar em um mundo de sonhos, e constrói-se um onirismo - pavoroso, pesadelesco - nos três quartetos, esvaindo-se aos poucos no terceto final. Mal, e isso é opinião minha, não gostei do anglicismo do Rapid Eyes Moviment. Deixa muito claro o objetivo do soneto, sintetiza sua ideia e parcialmente sua emoção, mas, se há outras maneiras de fazer isso com o nosso idioma, não vejo por que fazer isso com o termo inglês. É um termo técnico que, para o meu paladar, não sentou muito bem.
Quanto ao significado: em minha leitura, muitas coisas ruins deste ambiente de pesadelo referem-se ao "homem-monstro". Não sabemos quem é, mas sabemos que há uma profunda ligação entre ele e o passado do eu-lírico. Em sonhos, eu-lírico e o homem-monstro reencontram-se, talvez de forma indireta. Com o 'presente' do sonho, o eu-lírico traduz essa relação com os "In Memorian" e com o fato de as lamúrias, as queixas, já se haverem tornado cinzas.
Dou um especial destaque para estes versos (porque me intrigaram):
"Constante afirmação do gênero decadente: / Assinar com sangue o livro dos dias e expansão da mente"
Aí entra a questão:
Em Biologia, GÊNERO refere-se a um conjunto de espécies de seres vivos com características comuns. Os humanos, por exemplo, pertencem ao gênero "homo". Em Ciências Sociais, PAPEL DE GÊNERO é, relacionado às pessoas, que exercem as funções masculinas e femininas, a grosso modo, homens e mulheres. Mas também, em Gramática, os gêneros são MASCULINO e FEMININO (e neutro, conforme o idioma). E em teoria literária, temos os gêneros ÉPICO, DRAMÁTICO e LÍRICO. E por aí vai. Então, a expressão "GÊNERO DECADENTE" neste pode ter uma série de significados, o que pode levar o poema a ser interpretado de muitas formas diferentes.
(continuação)
ResponderExcluir1) Se, biológica e - um pouco - poeticamente, o gênero decadente for a raça humana, o homem-monstro é um exemplar de todos os seres humanos. Então, "assinar com sangue o livro dos dias e a expansão da mente" é uma atitude inerente a todos os seres humanos. "marcar com sangue" pode ser, então, que só se deixa a marca de sua existência mediante o sacrifício - o próprio e o alheio. Mas, um pouco antes, o eu-lírico deixa bem claro:
"In Memoriam dos meus dias, minha dor e MEUS PRÓPRIOS ATOS"
2) Se dentro das ciências sociais - e também gramaticalmente - o gênero maldito pode ser associado, então, ao masculino. Então, o homem-monstro é, efetivamente, um homem (um ser humano do sexo masculino). Portanto, o "marcar com sangue o livro dos dias" pode ser - e é, devemos admitir - muito próprio dos machos da espécie.
3) Se levarmos em conta a teoria literária (clássica, aristotélica), o Gênero maldito pode ser, no meu entender, a poesia: que espécie de produção artística marca mais com sangue o livro dos dias e expande a mente? Então, esse homem-maldito, quem é? Pode ser o poeta civil, que tem que acordar, trabalhar, pagar impostos, comer e fazer suas necessidades, que está distante do "eu de sonho", o eu-poético, o eu que se ressente daquele um tão mau e tão mesquinho.
Qualquer que seja a acepção, o eu-lírico faz um apelo ao leitor - e a si mesmo - o que ainda importa não deve ser destruído com lástimas que já se tornaram cinza e, portanto, se esvaíram.
É um poema muito reflexivo, muito complexo e bem... soturno, assustador, deprimente, sobretudo nos primeiros versos. Em tudo evoca a sensação de pesadelo, de escuridão e de morte (até nos termos "in memorian"). Ao final, faz um aprofundamento, como que "ultrapassando" esta zona de pesadelo, para uma consciência mais límpida, com mais noção de si. Porém, o último estrofe deixou-me muito mais dúvidas do que certezas, e, nesse aspecto, penso que pecou na execução: o poema poderia ter explorado esses três versos, indo além da sonoridade das palavras Adeus, Morpheus, e Meu Deus!
Mas me levou a matutar bastante, o que, por si, já vale muito.
Bom poema, Anne.