Um dia éramos sós
A sonhar com aquele rio
Atravessávamos oceanos
Em mente, somente...
Sonhávamos com o turquesa.
O tom de nossa pureza,
Fazia-nos esplêndidos sobre
O Danúbio azul.
Éramos sós,
Adventícios, amantes
E desconhecidos.
Declamando os males
Que a paixão trouxera,
Invocando o amor
Ou algo mais puro,
Ingênuo e intenso
Quiçá Fiel
Mas verdadeiro.
Declamo o quase amor
Para assim criarmos asas
Juntos, dois cisnes
Brancos como o véu.
A grinalda: o juízo.
Equilibrando-nos
Ao nadarmos,
E Amarmos-nos
No Danúbio azul.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Quando eu comento a respeito de lirismo - e já fiz isso algumas vezes, tanto que me sinto um chato... - digo que trata de uma única coisa: o íntimo. E, como ninguém sabe da intimidade alheia, a não ser os psicólogos, porque estudam para isso, nós, poetas, quando escrevemos poemas líricos, falamos da nossa própria intimidade. Ou seja, são os nossos sentimentos que estão no poema, e é um ato próprio, particular (egocêntrico?... deixo essa para a Marcia) esse "falar do que trago no âmago".
ResponderExcluirSendo assim, o poema lírico não se aproxima do resto da humanidade; e sim, o contrário: será a humanidade - a parcela dela que ler o poema - que haverá de se aproximar do poeta.
Eu fiz essa conversa toda para dizer o que eu, como leitor, vejo: este poema "Declamação de quase amor" é um poema lírico. E, sendo lírico, quem "fala" aqui no poema, salvo por não ser a linguagem corrente do dia-a-dia, é um eu-lírico muito próximo do eu-poeta.
Isso não é defeito nenhum. É uma maneira de se expressar, e mais ainda, é uma forma de dividir com seu público leitor o que o poeta está carregando nesse momento.
_______________
Sobre o poema mesmo: há aqui umas referências interessantes, e recorrentes nos textos da poeta (ou poetisa, como ela prefere): o amor, o onirismo (as imagens de sonho), o casamento (véus e grinaldas...), a busca pela pureza "Ou algo mais puro,/ Ingênuo e intenso/ Quiçá Fiel/ Mas verdadeiro.", e tudo isso numa atmosfera imaginária, idealizada, enfim.
Como você, poetisa, deu-nos a liberdade de ler, dá-nos também a liberdade de comentar (e interpretar). Como já percebi em outros poemas, o tema circunda (ou "orbita", como disse sobre o poema da Renata) esse "quase amor". Com tantas referências a brancura = pureza, e haver uma grinalda = juízo, tenho cá minhas suspeitas sobre o que aflige esse eu-lírico. E é muito rico ler um poema assim, para reconhecer nele a pessoa-poeta que o declama. Tenho minhas (muitas e particulares) reservas ideológicas sobre "grinaldas x purezas", mas isso é coisa muito minha. O que é fascinante é que, pelo falar do eu-lírico percebemos algo que aflige muita (muita) gente. Mas aí caímos em juízos - e isso em poesia não significa muita coisa.
Enfim, este "Declamação de quase amor" está de acordo com outros textos que já vi da poetisa. Penso que já li da autora poemas melhores, mesmo tratando de amor e sentimentos correlatos. Mesmo assim, é sempre bom perceber que a Taty não perde a mão: é uma poeta doce, sensível, que quer se soltar, mas... está quase.
Quase, amor.
Para ser sincera, é o primeiro poema do blog e d comunidade que tenho a oportunidade de comentar e, por que não dizer, o PRIMEIRO POEMA! Na Oficina e em um outro grupo já comentei contos, mas poesia é totalmente diferente, sua linguagem muito mais subjetiva e metafórica, dependendo do autor(a) ou do tema. Falar de amor como a Taty faz nesse poema traz muitas imagens relacionadas ao amor ideal, não o amor real, cotidiano, lírico mesmo, como disse Mr. V. Qualquer outro tipo de comentário que eu pudesse ou devesse fazer exigiria de mim um conhecimento maior de que não me julgo ainda conhecedora. Ao longo de minha participação aqui e de minha prática poética poderei melhorar nesse aspecto.
ResponderExcluirApos o completo comentário de Mr.V. ficou dificil dizer que o poema é riquíssimo em imagens, tem construção perfeita e é de uma lirismo apaixonante.
ResponderExcluirDesculpe mas preciso completar que o Dánubio é realmente inspirador... Já naveguei por aquelas aguas e não é balela de poeta.
taty, retomando o comentário do volmar, penso que o eu-lírico sempre guarda grande proximidade com o eu-poeta... na verdade, um e outro são o mesmo... a questão é o quanto isso fica ou não explicitado no poema... penso que, quanto mais explícita essa superposição, mais auto-biográfico o poema, menos leitores poderão se identificar com teu texto, e reciprocamente... o que nos agrada numa obra de arte? muitos mecanismos psíquicos operam aí, mas a identificação é sempre fundamental: gostamos de ver na obra de arte o que somos, o que amamos ou o que gostaríamos de ser ou de amar... tomei a liberdade de brincar com teu poema e reescreve-lo, tentando deixa-lo menos "personalizado", o portanto mais facilmente tomado como objeto de identificação por diferentes leitores:
ResponderExcluirJovens
Sonhavam só
Dançavam sós
Rios, oceanos
Água turqueza
Espuma branca
Pura pureza
- À valsa, vamos, linda princesa?
Bailando foram
Danúbio Azul
Amantes novos
Se declamavam
Novos amantes
Se apaixonavam
Um pelo outro
Pela paixão
Que fosse fogo
Tanto fazia
Que fosse breve
Não impedia
Que mal trouxesse
Fidelidade
O que buscavam
Era verdade
Asas abertas
Cisnes flutuam
Brancos de véu
De amor quase dito
De amor quase feitos
Na água, seu leito
Danúbio azulado
Amor dissolvido
Poema espraiado
Num luar de mel
...por aí... espero ter ajudado!
bjo
Taty,
ResponderExcluiro título de seu poema, de início, já me intrigou. Haveria um "quase amor"? Essa reflexão descontextualizada me levaria à negativa. Nesse âmbito, a meu ver, inexiste meio termo: ama-se ou não; vive-se, ou não, um relacionamento.
Os seus versos, contudo, claramente explicitaram o que seria esse "quase amor". Pelo que percebi:
- um envolvimento recente ("amantes e desconhecidos")
- entre dois jovens sonhadores ("atravessávamos oceanos em mente, somente")
- a experimentarem as primeiras angústias ("os males que a paixão trouxera")
- em busca de uma estabilidade afetiva ("algo mais puro, ingênuo e intenso")
- ao que parece, sob os moldes tradicionais ("dois cisnes brancos como o véu. A grinalda: o juízo.")
Poema bonito. Retrato, talvez, de um primeiro amor. Que menina não sonhou com o Danúbio Azul? As de hoje, creio, apenas sonham bem mais cedo. (risos) Mas ainda sonham.
As demais questões, sobretudo as do eu-lírico, foram exaustivamente analisadas acima. Espero ter contribuído com minha leitura mais interpretativa que crítica.
Um beijo, querida!
Oi Amada minha
ResponderExcluirJá te disse - e agora repito - que teu amadurecimento pode ser visto a olhos nus.
E quando digo isto, me refiro a Taty completa, em todas as suas nuances:
A pequena formiga de força descomunal, cujo longo caminho recém desbrava, arriscando novos passos, diferentes ritmos, mas nunca perdendo a delicadeza tão peculiar, que pode até nos enganar, fingindo-se fragilidade, mas que, se olhada de perto, bem de perto, "quiça" no íntimo, mostra-se uma fortaleza de intrincados e singulares alicerces.
E é ai que mora o encanto da tua poesia - por trás das palavras, sempre tão rebuscadas e atenciosamente escolhidas, vê-se brotar o "Q" doce e singelo que marca tua existência.
Sei que fui melosa, mas também sei que bem me entendes - Este belo poema é um bom representante da tua identidade poética, da qual falei com todo o coração (metafórico)
Beijus, querida.
Comentário:
ResponderExcluir"penso que o eu-lírico sempre guarda grande proximidade com o eu-poeta... na verdade, um e outro são o mesmo... "
no meu caso isso não é verdade - na maioria das vezes o MEU "eu-lírico" interpreta. risos
Abraços