terça-feira, 9 de junho de 2009

Fim da festa


Há uma solidão tão minha
que até de mim se disfarça
quando estou sozinha.
E não passa
onde quer que eu esteja,
porque sempre me segue
sem que eu sequer a veja.
Ela está aqui,
escondida,
mas quase despercebida
num beijo de amor.
É quando quase alcanço o céu...
... e de lá me assombro!
Quanto mais fantasio,
maior o vazio,
pior o tombo;
pois não há amor
sem alguma expectativa,
nem há expectativa
sem alguma dor.
Ilusão...
Desilusão...
É sempre o que resta.
A solidão é o fim da festa.
Quando muito,
há paetês no chão.
Ao menos sei
que é assim
e guardo pra mim
essa lucidez nas mãos.


Escrito em 2004. Foi um dos quinze poemas selecionados no IV Prêmio Literário Livraria Asabeça - Poesias, Contos e Crônicas, realizado em 2005, pela Scortecci Editora. Integra a respectiva antologia e o site http://poemadia.blogspot.com.

6 comentários:

  1. O fato consumado! O medo da outra obra concretizado. Os dois lados da moeda, a paixão, o amor... Seus prós e contras. Fica ao leitor: Vale a pena? E mesmo no fim da festa, paetês brilham no chão... E onde há luz, há esperança... Vamos à próxima Ilusão!! E na solidão criamos raízes que nos sustentam em outras fantasias.
    O fim de uma festa é o inicio de outra.
    GOSTEI!!! :D

    ResponderExcluir
  2. Sim, Taty! Aqui uma grande desilusão...

    Os paetês no chão, em verdade, retratam os mínimos proveitos que tirei do relacionamento. Ou, em uma segunda análise minha, a prova de que existiu, um dia, uma festa. Eles seriam vestígios de que havia, realmente, vivido aquela experiência, tamanho o desgosto com que olhava o passado, quase que o negando - o amor como uma farsa.

    Gostei de como você concluiu: "o fim de uma festa é o início de outra". Mas eu já ía pra festa seguinte com toda aquela lucidez nas mãos... Com a certeza de que poderia dar tudo errado, restando-me, como sempre, a solidão.

    É um dos meus temas prediletos: essa solidão que até de mim se disfarça! (risos)

    Beijo, querida!

    ResponderExcluir
  3. Concordo novamente contigo,
    Também pensei nesses detalhes,
    Mas achei que tinhas bem deixado claro...
    És uma grande poeta, querida.

    ResponderExcluir
  4. Oi Renata

    Tens uma forma bem realista de falar de sentimentos - gosto disso - sem rodeios ou enfeitinhos.

    Recentemente falamos sobre ser ou não ser piegas na "Sala de Teoria" - e posso dizer que consegues muito bem fugir disso.

    Solidão - sentimento que muito me acompanha - por isso consegui "fluir" junto aos teus versos.

    Como sou uma paranóica, sempre sinto falta de um padrão estético - mas gosto do fato de não te prenderes a regras.

    Gostei especialmente dos versos iniciais:

    "Há uma solidão tão minha
    que até de mim se disfarça"

    Beijinhos

    ResponderExcluir
  5. Solidão é um sentimento que também sempre me acompanha, Ju! Por isso, adoro esse poema! Ele fala de mim às claras.

    Verdade. Não me prendo tanto a regras e formas. Permito-me variações. Até já arrisquei alguns blavinos! (risos)

    Curioso: quando selecionam algum trecho deste poema, as pessoas sempre escolhem os versos iniciais. E eles são tão simples... Convenço-me, a cada dia, de que a simplicidade agrada demais.

    Beijinho.

    ResponderExcluir