terça-feira, 9 de junho de 2009

Minudências


Os dias se sucedem
sem que os lábios sequem...
Você me bebe
e eu lhe bebo
no desassossego
dos pequenos goles.
Em lentidão,
você me percebe
e me descobre,
eu lhe percebo
e lhe descubro
na vastidão
de cada detalhe.
Sei que busca
da minha alma
o talhe;
sabe que busco
da sua,
o matiz.
Você me beija
e eu lhe beijo
dando a diretriz.
E criamos elos
entre o que há de gestos
e o que se diz.
As verdades vêm
em medidas.
Não vive o amor
das minudências sentidas?


Escrito em 2007. Obteve, em 2008, o 3º lugar geral na 2ª edição do Concurso Internacionalizando o Jovem Escritor.

10 comentários:

  1. Confesso que não tenho o que comentar.
    O poema teve uma boa sequência de imagens em minha mente.
    Um momento transcrito... Muito bem descrito.
    Só uma dúvida:
    Seria amor ou paixão? (vejo que o eu lírico ainda está descobrindo o parceiro...)

    Parabéns, vejo que já foi ‘merecidamente’ reconhecido.

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  2. Eis a questão: os versos falam de amor ou paixão?

    Você captou, Taty, muito bem o que eu disse. O parceiro ainda sob análise. As verdades vêm, afinal, em medidas: em gramas, pesadas dia após dia.

    Adorei como você interpretou cada um dos poemas! Já me sinto gratificada por participar do Estúdio!

    Abração pra você!

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  3. "Você me bebe
    e eu lhe bebo
    no desassossego
    dos pequenos goles"

    Sabe, Adriana, são versos belos e afinados, como esses seus que aqui destaquei, que me fazem sorrir. Assim permaneço enloquecido (durante muito tempo), tipo, sob efeito desses goles desassossegados... lindo!

    Lualves

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  4. Ei, Lualves!
    Do doce de lira, caiu aqui no Estúdio!
    Que bom! Igualmente bem-vindo!

    Obrigada pelo elogio! Mas os versos são meus... (risos) Renata

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  5. Renata,

    Eu não faltaria em sua estréia. Admiro seu processo e sua poesia bem cuidada.

    Concordo com a leitura de Márcia, exclente poetisa fez admirável análise de seu processo. Desse modo só acrescento poucas coisas.

    Em relação à pieguice sobre o tema amor observo que hoje em dia o pudor é muito grande em relação ao amor enquanto ao sexo. Lemos poemas explícitamente eróticos, quase pornôs e temos todo esse cuidado pra falarmos de amor. Você fala de forma boa, clara e sem problemas. Gosto disso.

    É um prazer pra nós do Estúdio vermos um poema inédito aqui. O guardado desde os 15 anos foi aqui revelado, enfim! Muito bom também pois vejo nele já seu estilo, seu prazer com a linguagem. Bom começar cedo assim. Comecei há 10 meses mas, dizem, nunca é tarde.

    Parabéns pelos poemas merecidamente premiados: Fim de festa e Minudências.

    Fim de festa é uma festa de rimas que se adensa em Minudências. Nesse então você brinca mais livre com a linguagem com os lhe, ebo, ebe, e iz.

    Só não sei porque vc escolheu a palavra minudências. Gosto mais de minúcias;)
    Mas, gosto não se discute e você fez uma grande estréia.

    Abraço carinhoso
    Bea

    ps: dia 15 de julho estarei de volta

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  6. Bea,

    que bom que, mesmo ocupadíssima, fez questão de comentar os meus textos! Suas palavras sempre me vêm, antes de análise, como carinho. Afinal, seu incentivo à minha produção literária teve início assim que inaugurei meu blog, há pouco mais de 2 meses. Fez-se especial desde então!

    Só agora que falou é que fui reparar, detidamente, nas rimas... A brincadeira com a linguagem flui, realmente, com mais visibilidade, em "Minudências".

    O porquê deste título, da escolha desta palavra? Não sei ao certo... O poema teria ficado, talvez, menos sóbrio, se tivesse optado por "minúcias", como sugeriu. Mas não cabe aqui mexe-mexe! (risos) Inclusive por se tratar de um poema já premiado.

    Obrigada, mais uma vez, pelo prestígio. Um abraço demorado - que dure até 15 de julho! : )

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  7. Eu já havia comentado antes que este foi o meu poema preferido dentre dos três
    - e agora lhe direi o porquê:

    É sutil e envolvente - mantendo a mesma linguagem simples e real que salientei nos outros (isso é ótimo - aproxima o leitor).

    Além disso, a escolha das palavras é muito boa - destaque especial para:

    " me descobre...lhe descubro"
    trocadilho excelente!

    Este poema - ao contrário dos outros - não traz só sentimentos internos e desdobramentos românticos - traz também um erótico suave.

    Até a forma/aparência me agradou!
    -Muito belo mesmo - Parabéns!
    Beijus

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  8. Ju,

    você e Volmar viram neste poema um erotismo que jamais havia enxergado. Fantástico isso! Perceber novas possibilidades de leitura de um mesmo texto...

    Quando o escrevi, minha intenção foi a de narrar não propriamente o prazer, mas a dificuldade do início de um relacionamento. Descobrir o parceiro dia após dia, em pequenos e ainda preocupados goles. A Taty, salvo engano, foi a única que registrou isso.

    Você elogiou a forma. Só agora reparei: o poema ficou esteticamente muito bom. Obrigada.

    Não havia comentado ainda. Eu tive a oportunidade de tê-lo traduzido para o espanhol. O prêmio pelo terceiro lugar foi sua inscrição em um concurso na Espanha. Que linda ficou sua leitura...

    Um abração pra você, Ju!

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  9. Re, só um comentário: eu disse exatamente o contrário do que você disse, Renata. Eu mencionei o fato de que seu poema NÃO É erótico - mas que outros poetas teriam dito o mesmo, com ênfase no erotismo, o que não é o caso do poema.

    Se eu disse que é erótico, então me "desdigo", porque, de fato, não é.

    Só a Ju que vê erotismo em tudo (brincadeirinha... brincadeirinha...)

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  10. É verdade, Volmar! Você havia dito que alguns poderiam entendê-lo erótico. Como a Ju! (risos)

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