i.
ecoa em cada quadro dessa galeria
a justeza por que caminho,
e a aspereza do alheio
as mãos que não trazem calos
os impossíveis desapegos
um panorama do que não possuo
a perfídia do leito
cada hora perdida
cada fio de cabelo
os princípios e os fins
as cãibras, o suor
o cheiro de noite e os sonhos
a tortura, a morte, a dor,
o rancor e a solidão
o que de mim não se enamora
sussurra uma voz com cheiro velho
“ouço estrelas”, sabe-me o destino todo
fujo
ii.
persegue-me insistente o eco
que ecoa e ecoa e ecoa
nesse templo vazio e oco
buscam-me mortas
as coisas, mortas as horas,
as letras, mortas
o nunca, o nada, o pó
de uma rua velha, numa casa velha,
num mundo invisível e velho
ainda desperto ante o corredor
áspero e poeirento
sinto a frialdade do seu hálito
em cada quadro dessa galeria
ecoam o velho e o sono,
ecoam o verbo e o verso
vencido, desisto da fuga
devora-me uma fome urgente que não tem nome
sou engolido pelo torpor do esquecimento
Parafraseou parnasiano e fez bonito na primeira parte assim como na segunda ecoou fonemas nas repetições bem colocadas. Uma objeção à palavra frialdade(?). Não entendi o uso dela. Por que não sinto frio no seu hálito?
ResponderExcluirGostei das imagens invertidas como, por exemplo, na presença de mãos lisas de quem trabalha sem utilizá-las e sente na ausência dos calos. Belo "Esquecimento".
O 'eco ecoando' foi bem interessante.
ResponderExcluirA linguagem e a forma foram perfeitas para enfatizar a sensação da morte à espreita, a sombra, o temido, sabido e inevitável fim de todas as coisas.
'engolido pelo torpor do esquecimento'
Sábia escolha de palavras! Deixam margem à diversas interpretações; algumas minhas:
a própria morte 'per se' e o equecimento do poeta - ainda pior que a morte...
Esta mesma dualidade sutil se faz bem marcante no início:
'ecoa em cada quadro dessa galeria
a justeza por que caminho,
e a aspereza do alheio
*Esta 'galeria' poderia por vezes ser esta nossa aqui, pq não?
as mãos que não trazem calos
os impossíveis desapegos
um panorama do que não possuo
*seria esta uma peq. crítica aos de trab não tão árduo, vícios de linguagem e 'visões' diferentes das tuas, querido V?
beijinhos
"seria esta uma peq. crítica aos de trab não tão árduo, vícios de linguagem e 'visões' diferentes das tuas, querido V?"
ResponderExcluirNão, não seria não. Mas pode ser, sim, à toda voz do passado que ecoa, e ecoa, e ecoa. Ecoa em mim também. Não às idéias diferentes das minhas, mas a de todos os que dizem que poesia é puramente inspiração.
É disso que fujo. É desse esquecimento.
Não de vocês, meus amores. Até porque sei que esse hálito frio também quer devorar a todas vocês.
E vocês não querem ser devoradas, querem?
Bom, aí depende...
ResponderExcluirAh,era uma pergunta retórica?
bom, desculpa. rsrsrs
heheheheheehehe
ResponderExcluiresse poema é atordoante! reli várias vezes pq, assim como outros textos teus, eu preciso me apropriar devagar das palavras pra ver o que elas produzem em mim... sim, caro V., o hálito frio está aí, à espreita, quer-nos, todos... é uma luta fazer-se lembrado... mas, me ocorreu uma outra leitura: a luta que há no lembrar-se, a batalha interna incessante que se dá em nós entre o que lembramos e o que esquecemos, entre o que queremos lembrar e não alcançamos e o que queremos esquecer e não apagamos nem a pulso... memórias, marcas, retratos frios que nos assopram a cara enqto caminhamos pela galeria do tempo...
ResponderExcluirbem... viajei! mas acho que é sempre isso o que quer um poeta... e tu, bah tchê... tu consegues! parabéns e um bjinho
"m" sou eu: marcia!
ResponderExcluirV, meu anjo... Gostei do título; Esquecimento.
ResponderExcluirFoi exatamente o que houve assim que terminei de ler.
Não sei se pelos espaçamentos, ou se foi pelo fato dele ser muito íntimo.
As palavras às quais trabalhou deixa um ar confuso para quem não viveu o seu poema, como você.
Como se o poema fosse um desabafo, mas que não você gostaria de passá-lo como sentimento... Assim, fielmente.
Não se preocupe tanto com as palavras, mas sim com o entendimento;
Se você passa ou não com fidelidade o que sente.
Gostei. Você foi sincero, tentando esconder-se.
Muito íntimo. Não gosto de comentar coisas íntimas; Considero invasão de privacidade.
Meu grande e recente amigo escritor, belas palavras.
Parabéns.