quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Retrocesso



Pele escura e alma clara,
Vivia da agricultura, da pesca e da caça.
Inserido em uma bela sociedade familiar;
Tinha força, garra, fé e sabia amar.
Apreciava milho, amendoim, feijão, mandioca.
Tudo que a terra fornecesse à oca.

Não conhecia a cabra, a ovelha, a galinha, a vaca.
Surpreendeu-se com bichos alvos de olhos resplandecentes,
Que diziam ser de pura alma e com fé atraente.
Esses mesmos que deram nomes a inocentes.
Trocou humildade por espelhos,
Identidade por colares.
Caminha já dizia;
“Certamente esta gente é boa e de bela simplicidade.”;
Ticuna, Guarani, Pataxó, Caiangague.

Inocente, deu a vida por uma fé falsa.
Por conseqüência há avanço em várias áreas
Hoje temos medicina e informática;
Ondas de doenças e pragas.
Poluição psíquica, pouca vida.
Desordenado progresso, muita máquina.
Nomeação de direitos, deveres, amor, coração e alma.
Antes nem nome tinha, e tudo funcionara.

Poderia andar despido
De alma limpa e à natureza apreciar.
Mas perderia a vida ou tinha pena a pagar
Constrangeria meus irmãos, mediante ‘violência,
Atentado ao pudor, streaking.
O que é benevolência?

E a minha utopia a estrear;
Sonha o dia que o homem inventará
A máquina que na história voltará
Para dar vida a esse lugar.

4 comentários:

  1. i) Criatividade: É criativo, sem dúvida. É uma narrativa em verso, e isso é um ponto bem controverso da produção poética. (falo mais disso, adiante)

    ii) Uso adequado da linguagem: fico com uma dúvida: será que são mesmo necessárias as rimas, apenas "por rimar"? Bem, esse texto lembra-me bastante um cordel, no ponto em que se aproxima da musicalidade (porque tem cadência, tem rimas...), do tema, e da narrativa. Duas coisas que não entendi: a) O verso "atentado ao pudor, streaking"; e aquela apóstrofe em "mediante 'violência".

    iii) Metáfora: Não há uma metáfora central, mas há alguns momentos em que ela desempenha um papel importante, sendo que o melhor trecho, para mim, é esse: "Esses mesmos que deram nomes a inocentes./ Trocou humildade por espelhos,/ Identidade por colares."

    iv) Demais comentários: É difícil falar de "narrativas em verso", porque não são essencialmente poemas (no sentido em que "poema" é o texto que "contém poesia"). Se a narração (a ação no transcurso do tempo) se presta à finalidade da poesia (a expressão do conteúdo íntimo por meio de palavras polivalentes), então ela é válida como recurso. Caso contrário, se a narração presta-se apenas ao "contar uma história", ou ainda, a fazer uma reflexão lógica sobre o narrado, não temos poesia, mas prosa.

    Trata-se de um tema ótimo, muito visitado (no momento, lembro de "Índios", do Renato Russo, que fala mais ou menos das mesmas coisas, mais ou menos da mesma forma).

    É mais do mesmo; mesmo assim, é um bom "mais" de um ótimo "mesmo".

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  2. o tema é bom... de fato, não é original... nem renato russo o foi... vide gonçalves dias, castro alves... aliás, uma observação para o volmar: esses dois, e tbm vários outros românticos indianistas, faziam poemas narrativos... não sei muito de teoria poética, mas pelo menos a taty está em boa companhia! rsrsr
    uma obs: em "à natureza apreciar" penso que não cabe a crase; tbm não entendi o apóstrofo citado pelo volmar.

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  3. Os nossos indianistas eram (ou tentavam ser) épicos. E os épicos eram, antes de mais nada, narrativas escritas segundo os caracteres do texto poético. O nosso maior poema do nosso maior poeta (Os Lusíadas, do Camões) era narrativo. Mas a qualidade poética dele não se deve à história que ele conta (as aventuras e desventuras do Vasco da Gama - o homem, não o time...), mas a alguns momentos de um lirismo absoluto.

    Como eu disse acima, uma narrativa em verso não é em essência (sic) um poema. Mas uma coisa não exclui a outra, de forma alguma. Veja, por exemplo, "O caso do vestido" do Drummond.

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  4. Prosa poética que , a meu ver, começa mal: pele escura e alma clara?
    Politicamente incorreto. Até aí tudo bem porque detesto esse grilhão ético, no entanto, Taty, eu tropecei de cara. Lembrei Vinicius qdo disse ser branco de alma negra e aquilo caiu mal, tb.
    Desculpe se entendi mal, parece-me que todos entenderam e leram outro poema, outra prosa poética aqui.
    Achei a versificação pautada em palavras muito comuns e próximas de forma que a rima ficou frágiliziada.
    E o tema?
    Qual é o tema? Os índios? A violência contra eles?
    Taty percebo uma infantilização do índio e uma simplificação no tema.
    O conflito entre indígenas, ondigenistas, proprietários de terra, grileiros, MST é um vasto assunto. Vc tentou!
    Não me tomou. Mas, respeito sua luta.

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