quinta-feira, 12 de março de 2009

Do Azul

O azul me embriagou
penetrou-me o sangue,
cor da aristocracia
o viscoso azul dos nobres

Cor dos oceanos
da Terra vista do cosmos
cor de paz
não, a paz é branca
mas ainda gosto do azul,
são dessa cor as baleias
que vivem no mar também anil
ou seria turquesa?
tanto faz...
o inconteste?
sua beleza

Se menina, transcenderia o paradigma
rosa para as gurias,
não, não
azul, sim,
quem dera fosse azul o capim
dos nossos lindos verdes campos

Meu sonho
de todas as noites
é pulsão do inconsciente,
cair numa taça de azul
que me embriagou
e penetrou-me o sangue

De sterrennacht, van Gogh

5 comentários:

  1. Esse azul! Tem letra de música da Mercedes Soza. . Azul a cor predileta de tantos olhos. Cair numa taça de azul! Quem dera. Azul piscina - Primeira Noite de um homem - cena linda.
    Gostei do azul capim, azul pra todos e tudo azul. seu poema me lembrou uma historinha
    Domenico Modugno, um cantor italiano das antigas, fez Volare em homenagem a -Le Saut dans le Vide- foto em que Yves Klein, o pintor do azul mais famoso do mundo, salta sobre o muro dipinto di blu.
    http://2.bp.blogspot.com/_vCWKTPdegnE/SDtMiZy3RiI/AAAAAAAAAGU/GS3Q4VHKHpI/s1600-h/volare.jpg

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  2. muito interessante essa composição que vc faz entre uma obra plástica e um texto... aqui, as estrelas pulsionais de van gogh, espalhadas no azul que tudo toma... que azul seria esse? azul de olhos? azul de sangue nobre? um azul que puxa o desejo e se realiza no sonho... muito bom... fiquei com vontade de ouvir "stary, stary night..."

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  3. Maravilha, Caio! Gosto de poemas onde há cores inseridas. Vejo que você soube explorar bem as facetas do azul.

    Na escrita em si, não me agradou o trecho entre "não, a paz é branca" e "sua beleza". Achei que a leitura não fluiu bem ali.

    Entendi o azul como sendo o combustível que dá vida ao eu-lírico e às coisas à volta dele. O azul deixa de ser só cor, é o sentido da vida, a energia pulsante da existência plena.

    Bom poema!

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  4. Outra vez, um recurso que deve(ria) ser sempre lembrado: o poema é circular; a linguagem poética retrocede, ao passo que a prosa avança. O "final" emenda-se ao "início", remete a um novo ciclo, uma nova leitura, um novo começo do mesmo, só que sempre novo. Não é necessário, como aqui neste "Do Azul" repetirem-se as palavras, mas é um recurso que, particularmente, gosto. E recomendo.

    Uma característica que ainda desconhecia na poesia do Caio é "vocalibilidade" (eita... acho que viajei agora..rsrs): a impressão de, ao ser lido, o poema parece coisa dita, falada, audível durante a leitura. Por comparação: muitos dos meus poemas eu acho razoáveis só no papel, mas acho feios lidos em voz alta.

    Este, que a propósito, trata na superfície do visual, é um poema para ser lido, e ouvido. Eu experimentei - e gostei muito. Até tentei imitar as declamações do Paulo José, de que gosto tanto...

    Sobre o poema: não diz muito mais do que diz efetivamente. Versa sobre o azul de fato: a cor azul; o que se lhe atribui: a cor do mar / oceano (que nem é azul...), a cor do sangue nobre (que também não é azul...), a cor das baleias (que também não são azuis...). Em seguida, o azul hipotético: o azul para meninas, o azul para a paz, o azul para (vejam só) os "lindos verdes campos".

    Por curiosidade (e chatice minha): tanto o céu visto da terra, quanto a Terra vista do espaço, quanto o azul que vemos na superfície do mar são por causa de um elemento: o ozônio.

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  5. Associar poesia e arte...Que grande sacada! Uma poetisa que usa muito este recurso é a Maria e acho que funciona perfeitamente.
    Suas poesias são de um lirismo único e despertam a sensibilidade...
    Gosto da sonoridade, do colorido e principalmente da ousadia nos experimentos.
    Todos os poemas são um pouquinho do que o leitor quer escutar ou ser. Alcançar este ponto é difícil...Parabéns!

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