quinta-feira, 5 de março de 2009

Na esquina

Around the corner, upload feito originalmente por Little.Snail.



Naquela esquina, você sempre dobra


À direita, e eu, na calçada estreita


Sigo atrás. Mas hoje, foi a tarde


Que dobrou dourada,


Quente de promessas


 


             E eu, ali, sem você, fiquei parada


             Na quina de um tormento.


             Eu era boneca de pano,


             Sem recheio, toda errada,


             Porque na rua onde você tudo acha,


             Não achei nada


 


                         Agora, a noite, que espreguiça


                         Na ponta crescente da lua,


                         Vai cair na encruzilhada,


                         E proteger amantes


                         Até amanhã cedo


 


                               E eu aqui, sem nenhum dinheiro,


                               Fria de medo,


                               Com pressa pra lhe fazer um agrado,


                               Não me acho,


                               Não sei se fico,


                               Nem se parto,


                              


                                          Ou se ainda sou a mulher


                                          Que você, para sempre,


                                          Quis ter só por um dia


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6 comentários:

  1. li este poema duas vezes... na primeira, pensei que ele podia terminar na segunda estrofe... de fato, me parecem que aí, nas duas primeiras, estão os melhores versos do texto:
    Mas hoje, foi a tarde
    Que dobrou dourada,
    Quente de promessas

    E eu, ali, sem você, fiquei parada Na quina de um tormento.

    ... na segunda leitura, compreendi melhor o poema... ainda assim, a terceira estrofe me pareceu desnecessária e um pouco deslocada do resto... tente ler pulando essa estrofe... na minha opinião o poema ganharia um ritmo melhor, e as duas finais teriam maior impacto...

    enfim, é uma sugestão!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Lindo poema,
    Onde as estrófes parecem distinguir momentos - Desde suave, apreensivo, até intenso, inseguro... sofrido.
    Enfim, o desenrolar de uma estória - os Altos e Baixos de uma história de amor, onde se ama ao momento, muito mais que ao amante, ou onde se ama e ponto.
    O amor 'per se' já torna tudo assim, intenso e intrincado... O que eu posso dizer... Amei.
    Não exatamente o poema em sua forma e palavras, mas aquilo que ele tão bem transmite chegou a mim... é isso.

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  4. Lembrou-me Meireles;
    “... Não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. "
    Inspirou-me Vinícius:
    ’A boneca aprendiz;
    De Sonhar a mulher
    Que quem sabe um dia poderia ser...’
    Adorei a arte, Bea.

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  5. Primeiro, o que gostei: é uma cena, inserida como acontecimento no espaço-tempo: portanto, há um "enredo". Mesmo que não seja papel da poesia a "sintaxe narrativa", os acontecimentos em função do tempo e sua relação de causa e consequência) - aliás, é o contrário que se espera dela - esse poema conseguiu trazer para sua forma textual o enredo, e ainda assim, fazer dele uma parte constituinte do fenômeno poético.

    Em suma: conta uma história, mas foge à prosa pela prosa.

    Ao reconstruir uma cena análoga à realidade (e portanto, à história), o poema causa o estranhamento, por conta do viés lírico: os eventos e a relação do eu-poético com os mesmos é subjetiva. Por exemplo:

    "Sigo atrás. Mas hoje, foi a tarde / Que dobrou dourada, / Quente de promessas".

    ou

    "Eu era boneca de pano, / Sem recheio, toda errada,".

    Por conta disso, o texto deixa de ser tão somente prosa para é inundado pelo poético.


    O que não apreciei muito foi, justamente, nos pontos onde a narrativa não consegue escapar à objetividade prosística, como em:

    " E eu aqui, sem nenhum dinheiro,"
    " E [a noite vai] proteger amantes / Até amanhã cedo"

    O tema é recorrente na autora: a (in)diferença por parte do interlocutor (o "você") em relação aos apelos do eu-lírico.Trata do início ao final da sensação ruim do fracasso erótico-amoroso - e da não reciprocidade (interpretação minha). Ao que se propõe, é eficaz. Talvez não queira ser demasiado adocicado, e por isso faço votos de que continue se esforçando nessa direção, que, pelo que tenho notado, é uma marca da poeta: o amor, sim, mas mais amargo que doce.

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  6. Achei o poema diferente e gostei do recurso da ação sendo usada como pano de fundo. A cena é bem inspiradora e o clima sensual e envolvente da poesia pega o leitor de jeito. Impossível não acompanhar com interesse até o final e ficar literalmente encantado.

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