Naquela esquina, você sempre dobra
À direita, e eu, na calçada estreita
Sigo atrás. Mas hoje, foi a tarde
Que dobrou dourada,
Quente de promessas
E eu, ali, sem você, fiquei parada
Na quina de um tormento.
Eu era boneca de pano,
Sem recheio, toda errada,
Porque na rua onde você tudo acha,
Não achei nada
Agora, a noite, que espreguiça
Na ponta crescente da lua,
Vai cair na encruzilhada,
E proteger amantes
Até amanhã cedo
E eu aqui, sem nenhum dinheiro,
Fria de medo,
Com pressa pra lhe fazer um agrado,
Não me acho,
Não sei se fico,
Nem se parto,
Ou se ainda sou a mulher
Que você, para sempre,
Quis ter só por um dia
li este poema duas vezes... na primeira, pensei que ele podia terminar na segunda estrofe... de fato, me parecem que aí, nas duas primeiras, estão os melhores versos do texto:
ResponderExcluirMas hoje, foi a tarde
Que dobrou dourada,
Quente de promessas
E eu, ali, sem você, fiquei parada Na quina de um tormento.
... na segunda leitura, compreendi melhor o poema... ainda assim, a terceira estrofe me pareceu desnecessária e um pouco deslocada do resto... tente ler pulando essa estrofe... na minha opinião o poema ganharia um ritmo melhor, e as duas finais teriam maior impacto...
enfim, é uma sugestão!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLindo poema,
ResponderExcluirOnde as estrófes parecem distinguir momentos - Desde suave, apreensivo, até intenso, inseguro... sofrido.
Enfim, o desenrolar de uma estória - os Altos e Baixos de uma história de amor, onde se ama ao momento, muito mais que ao amante, ou onde se ama e ponto.
O amor 'per se' já torna tudo assim, intenso e intrincado... O que eu posso dizer... Amei.
Não exatamente o poema em sua forma e palavras, mas aquilo que ele tão bem transmite chegou a mim... é isso.
Lembrou-me Meireles;
ResponderExcluir“... Não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. "
Inspirou-me Vinícius:
’A boneca aprendiz;
De Sonhar a mulher
Que quem sabe um dia poderia ser...’
Adorei a arte, Bea.
Primeiro, o que gostei: é uma cena, inserida como acontecimento no espaço-tempo: portanto, há um "enredo". Mesmo que não seja papel da poesia a "sintaxe narrativa", os acontecimentos em função do tempo e sua relação de causa e consequência) - aliás, é o contrário que se espera dela - esse poema conseguiu trazer para sua forma textual o enredo, e ainda assim, fazer dele uma parte constituinte do fenômeno poético.
ResponderExcluirEm suma: conta uma história, mas foge à prosa pela prosa.
Ao reconstruir uma cena análoga à realidade (e portanto, à história), o poema causa o estranhamento, por conta do viés lírico: os eventos e a relação do eu-poético com os mesmos é subjetiva. Por exemplo:
"Sigo atrás. Mas hoje, foi a tarde / Que dobrou dourada, / Quente de promessas".
ou
"Eu era boneca de pano, / Sem recheio, toda errada,".
Por conta disso, o texto deixa de ser tão somente prosa para é inundado pelo poético.
O que não apreciei muito foi, justamente, nos pontos onde a narrativa não consegue escapar à objetividade prosística, como em:
" E eu aqui, sem nenhum dinheiro,"
" E [a noite vai] proteger amantes / Até amanhã cedo"
O tema é recorrente na autora: a (in)diferença por parte do interlocutor (o "você") em relação aos apelos do eu-lírico.Trata do início ao final da sensação ruim do fracasso erótico-amoroso - e da não reciprocidade (interpretação minha). Ao que se propõe, é eficaz. Talvez não queira ser demasiado adocicado, e por isso faço votos de que continue se esforçando nessa direção, que, pelo que tenho notado, é uma marca da poeta: o amor, sim, mas mais amargo que doce.
Achei o poema diferente e gostei do recurso da ação sendo usada como pano de fundo. A cena é bem inspiradora e o clima sensual e envolvente da poesia pega o leitor de jeito. Impossível não acompanhar com interesse até o final e ficar literalmente encantado.
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