quinta-feira, 19 de março de 2009
Enfim (2009)
Quando, enfim, me deixo
Perco-me em chinelos
Verso o Verbo-carne
De universos, bebo
A papéis, me prendo
Faço outras Babéis
Novas vidas, risco
Vagalumes, caço
Acho a hora perdida
Ganho o grande beijo
Quando, enfim, me viro
Visto qualquer cor
Clamo em outras línguas
Todo o fogo, como
Leio as entrelinhas
Em grão, me transformo
Rezo ao meu umbigo
Horizontes, rasgo
Coleciono dores
Sem amar, respiro
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muito interessante este... entendi-o como uma descrição do próprio processo de criação, de escrita... uma intersecção entre a vida real e a vida escrita nos papéis, entre o eu do escritor e os personagens espalhados/espelhados que ele cria... emoções como um pezinho na realidade ganham dimensões insuspeitas na fantasia... enfim... "enfim" é muito bom!
ResponderExcluirAchei livre e solto. Um instante de inspiração ou como voce sente o momento em que escreve. Passa emoção, conteúdo e imagem. Acho que voce anda flutuando o que para um escritor é excelente.
ResponderExcluirParabens pelo texto e futuro bebe.
Obrigado, meninas! Estava ansioso pelos comentários de vosmicês, sobretudo desta poema - meu mais recente.
ResponderExcluirDepois que outros comentarem, falo mais dele.
Esse poema me incomoda um pouco... As duas estrofes parecem se opor: "Quando, enfim, me deixo"/ "Quando, enfim, me viro", o que parece sugerir os dois versos citados. Mas os outros versos parecem se complementar quanto ao sentido. Em ambas são expressos elementos afins, na primeira, de forma mais serna, na outra de forma mas apaixonada. Se esse "enfim" é tão esperado, ele não seria algo positivo? O último verso completa o conjunto incoerente do poema. Como é possível tanto sentimento em um eu lírico que não ama? Destoa do comportamento apaixonado da voz lírica. Estranho...
ResponderExcluirAh... quantos mistérios guardam o coração de um poeta?
ResponderExcluirAquele que se encontra e se entrega aos seus papéis e 'penas', aquele que vive mais o sonhado que o vivido.
E quando volta 'a si', o mundo lhe parece tão cinza... todo a cor, todo o amor ficou guardado, latente, esperando o próximo poema...
E este, expressa isso muito bem, com simplicidade e sutileza.
Carlinhos, já cansei de te elogiar, uma hora dessas prometo que te xingar, mas só pra variar, ok? (risos)
Gostei desse poema, não por nenhum aspecto "técnico-expressivo", mas pela identificação: o eu-lírico reconhece-se enquanto observador do mundo e "registrador" daquilo que observa. E, mais ainda, de como esse eu-poético percebe-se UM quando registra como sente o mundo, e OUTRO, quando age nele: um eu-social, e um eu-...poeta.
ResponderExcluirPenso, entretanto, que faltava uma terceira estrofe: um retorno ao princípio, um fecho do ciclo. Os versos iniciais das estrofes, também, poderiam ser ligeiramente diversos em relação à situação no tempo. Por exemplo: no da primeira estrofe, diria "Quando, então..."; no da segunda, diria "Quando, ora,...", e, na última - que não está aqui... - diria, aí sim, "Quando, enfim...".
ótimas sugestõs, V.
ResponderExcluire a terceira estrofe sempre existiu, só não consegui extraí-la da minha mente ainda... mas, coloquei o poema mesmo assim para ver o que vosmicês diziam.
até agora, estou gostando dos comentários.
Enfim é uma delícia de movimento sobre a escrita. Vc brincou com os verbos, as palavras vieram encaixando. As ações também. Vira, mexe, escreve. Tem ritmo, todas as línguas, e fui indo e agradeci o respiro ao final.
ResponderExcluirGenial, Carlinhos.
Desculpe a demora, mas além de precisar esperar os comentários (como disse no Cria...eu recebi visitas e só hoje estou mais livre pra comentar, ok?
Não se aborreça comigo, espero.
Abraços gerais
Opa, agora li os comentários consistentes acima e resolvi complementar o meu.
ResponderExcluirLá vai
O tal eu-lírico(sei que é assim que se deve dizer, mas...) qdo se deixa, solta-se e aí tudo acha: verbo, palavra, papel, o verso e ganha o beijo. Seria (credo, haja coragem pra dizer) o beijo da musa poesia? Enfim é uma fala de quem se acha qdo se perde e só respira qdo não ama porque, enfim escrever dói como amar. Será?
Bom, Carlos, Carlinhos - whatever - eu gostei. Tlavez, como disse o boss - V. - uma terceira estrofe daria mais destaque a um poema tão bom. Vale tentar.
olha eu já disse e torno: eu não tenho jeito e de fazer isto
ResponderExcluireu gosto e pronto
ou nem isso e nem acabo rss
este seu poema tem cerne, tem garra, mas eu retirava alguma pontuação e uma ou outra letra maiúscula: eu mostro
Quando enfim me deixo
perco-me em chinelos
Verso o Verbo-carne
De universos, bebo
A papéis, me prendo
Faço outras Babéis
Novas vidas, risco
Vagalumes, caço
Acho a hora perdida
Ganho o grande beijo
Quando enfim me viro
visto qualquer cor
Clamo em outras línguas
Todo o fogo, como
Leio as entrelinhas
Em grão me transformo
Rezo ao meu umbigo
Horizontes, rasgo
Coleciono dores
Sem amar, respiro
e eu sinto o poema coxo
sinto a falta de algo que encerre ou que faça espessura entre os dois tempos
Quando (...)me deixo e Quando (...) me viro
ligando-os ou afastando-os, mas não deixando esses "estares" soltos um do outro que é o que me pareceu assim como está