terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

sem palavras

debruço-me sobre o dicionário
de A a Z vou percorrendo
palavras sobre palavras:
amor, bondade, carinho
devoção, estima, filia...
nenhuma me serve
nenhuma faz sentido ou rima
nem completa o pensamento
que, mudo, dentro de mim toma forma
ganha cor e perde as margens
capta-me todo o corpo pelo avesso
e, de dentro para fora,
me despe e transparece
aquilo que sinto e não nomeio
o que, mais real que a realidade,
me permite ser por inteiro
ainda que partida ao meio.

3 comentários:

  1. A essência da poesia: palavras que são, em essência, outras palavras.

    "Aquilo que sinto e não nomeio / o que, mais real que a realidade, / me permite ser por inteiro / ainda que partida ao meio."

    O dilema do fazer poético, do reconhecer-se poeta e dessa coisa que o incomoda até a morte: a poesia é, ao mesmo tempo, doce e amarga.


    Uma reclamação: faltou apenas um poema com sua metáfora nº1: o mar.



    Obrigado, Marcia. De verdade.

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  2. As palavras e as coisas. Sempre sobra coisa sem palavra. Mas, a Coisa fica buscando, provoca a poetisa até que ela ache a palavra capaz de nomeá-la. Nem que seja parcialmente, como sempre. A linguagem nunca dá conta da "coisa". ;))
    Muito bom, muito bem

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  3. Expressa algo bem presente em todos os poetas - o sentimento maior que tudo - tão grande que às vezes faltam palavras para expressar...
    (o medo do silêncio que assombra todos nós)
    Da mesma forma que há poesias feitas apenas de palavras, existem outras feitas só de sentimento - estas me agradam mais, pois não saem de moldes ou formas, saem do íntimo, tem alma. (eterna romântica). Muito Boa...

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