quinta-feira, 12 de março de 2009

Poemação II

Me admira o homem
com sua astúcia
fazer da maçã
objeto não de único objetivo.

A maçã é, pois, um subjeto
que alimenta
que ornamenta
ou que apenas apodrece no chão.


Ceci n'est pas une pomme - René Magritte

5 comentários:

  1. Interessante... Pomar inspirando Poemas, então, vouala: 'Poemar!'
    Gosto da liberadade dos termos, mesclando uma linguagem simplista a uma visão profunda.
    Em poucas palavras abrange muito significado- É conciso sem deixar de ser poético.
    Gostei muito do 'brincar com as palavras'
    'Poemar'
    'Objeto de não único objetivo'

    E a maça evolui para a categoria de sujeito, encontrando seu inevitável fim ao
    'apodrece no chão'
    Em uma uníca palavra: Astuto!
    Parabéns!

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  2. concordo com a Ju. Poe(maçã)o é também brincar com as palavras e a relação sujeito-objeto tão desprezada na poesia "muderna'.

    Astuto!

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  3. entendi que o quadro de magritte faz parte deste poema... 'e um poema-ação em torno da (poe)maçã(o) que n'est pas une pomme...
    qual é, para o poeta, o objetivo único do poema... como a maçã que não-é, o poema alimenta (a alma), ornamenta (a vida) ou apenas apodrece no chão (do esquecimento, tão caro ao volmar)... o poema passa a perna no poeta, torna-se, ele próprio, poema-ação sujeito, e quem é comido é o poeta...
    bem, viajei! mas achei muito bom, caio!

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  4. A pintura do Magritte diz muito sobre este poema. "Isto não é uma maçã", eis a idéia.

    Pensando assim, e tendo lido a "poemação" anterior, digamos que a maçã, aqui, seja a própria poesia, mais uma vez. Então, temos a poesia com seus vários objetivos, que podem ir tanto de algo que agrade/supre algum capricho do homem, ou vá ao chão sem que ninguém a absorva, para, enfim, apodrecer.

    Você foi muito feliz ao dialogar com a arte do Magritte, Caio. Pois vejo-a como uma porta-voz do que realmente é a Arte, que possui seus próprios significados, não se resumindo a copiar a "realidade". Sendo a poesia também uma arte, podemos refletir no sentido de ir além do que as palavras nos apresentam, buscando os significados ocultos, as entrelinhas, explorando o que, de fato, a poesia pode oferecer.

    Belo poema, onde poucas palavras dizem muito!

    Parabéns!

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  5. Igualmente filosófico, esta segunda parte de "Poemação" trata da metáfora: afinal, por que é que uma maçã não é só uma maçã? O que é que ganhamos fazendo com que uma maçã seja outra coisa, represente outra coisa, esteja em lugar de outra coisa, que não seja, meu Deus, uma maçã???

    A minha conclusão: não sei! Temos a mania insistente de, não só dizermos mais do que dizemos, mas vermos outras coisas naquilo que vemos, querermos ler mais do que está escrito.

    Tudo por conta de uma mardita duma fruta, vinda da Árvore do Conhecimento: Fomos expulsos do paraíso por causa de um único pecado - a curiosidade. E o fruto, dizem, era uma maçã.

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