a água me chama e quero ir soltar-me deixar-me simplesmente ir com as ondas liberta dos destinos das chegadas das promessas apenas fluindo com as correntes aproveitando cada uma das originais sensações da oscilação de temperatura sobre a pele
'
a água me chama porque sou eu também mar sou células feitas de água e sal e o contato íntimo com o meu mesmo me pacifica como um reencontro como um regresso à mais primeva origem como à mãe
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a água me chama com sua voz melíflua e ritmada e suas canções de maresia criam sereias que atraem marujos esperançosos por braços quentes corpos ardentes amor infinito
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quando me deixo ir com a água sou eu a sereia e o marujo
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meu corpo é o calor em meio às águas
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sou até onde as ondas persistem
quinta-feira, 16 de abril de 2009
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Márcia, gostei porque falaou citando o mar, pacífico, oceano, mère, poder se soltar no fluxo do texto. enorme a minha dificuldade. atravessou um mar, mère. Sem medo. Juissance;)
ResponderExcluirEu não sei analisar melhor do que isso. Eu misturo as leituras, as linguagens. A água lhe chama, lhe chama...qdo vc se deixa é bacana porque tem um limite - a crista da onda.
Tem sal da terra nessa prosa mar poética de um instante
Bueno. O povo está muito - extremamente - devagar essa semana (deve ser o frio).
ResponderExcluirAtendendo a um pedido meu (convencido...), Marcia postou um poema sobre o mar. É claro que não é por minha causa, obviamente. Marcia é um ser do mar, e seu tema recorrente é o mar.
Sobre a estrutura: o ritmo e a escritura desse poema é digno de nota - os versos são longuíssimos. Gosto de pensar nisso, ouvir mentalmente o poema, como o som de um mar calmo. Se esse poema for lido ininterruptamente, é quase como se fosse um único verso.
É interessante perceber em um poeta esse traço da maturidade poética: ter constituído um universo poético. Aos poucos, o poeta o desvenda - porque esse universo revela-se a ele tão lenta e misteriosamente como aos seus leitores.
Encontrei esse mistério de forma muito prazerosa. Esse poema é revelador de muitas coisas já ditas pela poeta: o mar não é só a fonte de onde bebe para elucidar seu íntimo, mas que sendo poeta, confunde-se com sua criação. A poesia invoca o poeta para si, e o poeta se dilui, se identifica, torna-se a poesia. E o eu-poético de Marcia É o mar.
Gostei demais deste formato. Mar, sons e cadências... Um tema aparentemente fácil e muito usado pode adquirir nova roupagem.
ResponderExcluirAqui temos uma prova. Muito bom.
"quando me deixo ir com a água sou eu a sereia e o marujo
ResponderExcluirmeu corpo é o calor em meio às águas
sou até onde as ondas persistem"
Gostei da nova visão... astuta!
Gostas das águas, né Márcia?
O formato - longo - dos versos e seu sons, gradualmente misturados, interligando-se continua e suavemente, fazem deste poema muito original! Ele remete ao próprio mar, em suas ondulações, por vezes suaves, em outras intensas.
ResponderExcluirA segunda estrofe me encantou:
"a água me chama porque sou eu também mar sou células feitas de água e sal e o contato íntimo com o meu mesmo me pacifica..."
E ao final, o eu-lírico, enfim afirma:
"sou eu a sereia e o marujo...
'...
sou até onde as ondas persistem"
E até onde elas persistem?..
Em sua origem: distante, longínqua do "horizonte eterno", ou no morrer, lento e delicado à beira da praia?
O referencial escolhido (que varia, conforme o estado de espírito do leitor) traz diferentes significados à esta conclusão - ambos interessantes!
Márcia, o teu amor pelo mar pode ser sentido - como o meu pela madrugada ou o do V por seu resto de café frio.
'Toda Diva, quando vista pelos olhos do amante é Apaixonante' :)
Márcia, Márcia... o que temos aqui, doutora das letras?!
ResponderExcluirO seu poema fez o que poucos até hoje já me fizeram: deixou-me com vontade de chorar (não chegou a cair a lágrima, mas chegou perto, aliás, nenhum poema ainda fez essa lágrima cair).
Lindo, lindo. Um poema de entrega, é isso que é.
Nâo vou me atentar a estruturações ou aspectos técnicos quaisquer. Também porque - outra qualidade de seu poema - fui arrebatado de tal forma que não me prendi a analisá-lo, mas em vivê-lo. E isso, poucas vezes consigo fazer.
Lindo, lindo, Márcia. Não consigo dizer mais.
A falta de pontuação sugere o próprio mar, seu correnteza. Ou ainda o devaineio ou pensamento do eu-lírico. Foi tão... sublime. Consigo ver tudo como num filme.
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