segunda-feira, 27 de abril de 2009

Amar-te

Amor recíproco e imponderável
é ovacionado pelas impossibilidades
e encarcerado no recanto mais puro de minhas angústias.

Amar-te é negar-me à felicidade para dar-te paz.
Fundamental é fazer-te possuir tudo que faz ausência em mim.

Amamos-nos no desejo do beijo nunca apreciado,
na troca de olhares nem sequer disfarçados,
na angústia, no medo de soltar o que ainda parece controlável.

Amar-te-ei ainda que desnecessário.

4 comentários:

  1. Como eu já havia comentado acerca deste em teu blog, serei um pouco repetitiva.
    Fala do amor inalcansável... daquele 'eu' ingênuo, que está prestes a descobrir que a felicidade é algo egoísta.

    "Amar-te
    É negar-me à felicidade para dar-te paz..."

    Anula-se em prol do ser amado, pondo-o acima de tudo e julgando que isto é o verdadeiro amor - um amor que é medido nas dificuldades, por vezes platônico, noutras prestes a explodir, cortar as amarras (de insegurança e medo) e tornar-se real.
    Há uma série de contradições, típicas de um 'eu-lírico' confuso, que termina dizendo:
    "Amar-te-ei ainda que desnecessário."
    Como se algo 'maior ou misterioso' o amarrasse a tal situação.
    Talvez a insegurança quanto aos próprios sentimentos ou o medo de magoar o 'amante' (já que afirma ser recíproco).

    Quanto à estrutura eu - e minha neurose por simetrias - mudaria levemente a construção da 3a. estrofe para que acompanhasse a forma das anteriores (ficaria mais harmônico).

    E é 'só' (me empolguei!)- Parabéns Taty!

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  2. muito bonito, este tbm!
    o melhor verso:"Fundamental é fazer-te possuir tudo que faz ausência em mim." ... uma bela definição de amor!

    taty, um resumo dos meus comentários: com relação à primeira rodada de poemas que vc postou, achei estes anos luz melhores! mais trabalhados, mais consistentes, é visível teu amadurecimento, no sentido de encontrar tua assinatura poética... não sei muito bem o que é o tal do eu-lírico, mas entendo que é essa parte de nós que produz nossa poesia... o teu é jovem, inspirado, apaixonado... seus poemas tem um frescor de juventude que contagia o leitor... parabéns e siga em frente, formiguinha!

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  3. Taty, desde InTensa, passando pelo Poema Vivo aí dando no És amar (que pra mim ficou um tipo Amar é..., agora este Amar-te, vc quase me manda Vênus. Sorry, pela bobice. Não resisti. Mas, é que o primeiro deixou a sensação de que a maturidade veio..aí vc me tomou de assalto com toda tensão que o amor provoca. Ok. Lá vim eu, confesso, preocupada com tanto açúcar, mel, mar, véu. Uma loucura, moça! Mas, tudo bem. Moça ou não, é assim mesmo.
    Cheguei no Desamor e senti que as coisas começaram a sair da dispersão. Assentamento sinestésico? ;))
    E agora, ao final, Amar-te mostra a maturidade do começo. Amar-te é negar-me à felicidade para dar paz ao ser amado.
    Senti alívio, Taty. A maturidade chegou sim e pra ficar. Repito as palavras de Márcia. Todas elas e mais. Logo que cheguei pra comentar, desta segunda vez, vi a mudança. Na primeira passada, levei um susto em minha segunda leitura de seus poemas. Quase não lhe reconheço.
    Comentei com meu marido o quanto me identificava com vc. Eu que comecei a escrever no ano passado, meu primeiro poema é de junho de 2008, cresci diferente, muito mais devagar. Tenho menos fôlego! Vc de um mês pro outro deu um salto enorme! Construído com esforço, tá na cara. Mas tão arrojado!Ah, juventude, qto vigor. Coisa linda de ver, gostosa de seguir, comovente poder estar.

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  4. Impressionante.

    Não quero chover no molhado, e dizer da diferença entre estes poemas e os da última rodada. Mas, enfim, a Tati conseguiu algo muito positivo em sua expressão, o que eu valorizo muito: a concisão. Sobretudo, para falar desse assunto com o qual todo mundo fala (e fala, e fala, e fala...).

    Para mim, o amor que pintam não é nem de perto o amor como é de verdade. E não que as pessoas não amem; penso que a ideia que fazem do amor (que precisa ser perfeito, que precisa ser recíproco, que precisa ser romântico...) é que se multiplica, se recicla, mas continua sempre a mesma coisa desde as canções de amigo do Cancioneiro Geral da Torre do Tombo, de quando Camões via com os dois olhos.

    E é em Camões que eu encontrei algo que encontrei também nos poemas da Tati - este especialmente: a dualidade entre coisas que não são necessariamente contrárias. Quem é que não lembra de o amor se "dor que desatina sem doer".

    O amor É dor, e dói sem doer. Não é "a doença e a cura". Aqui, neste "Amar-te", é angústia e medo (de perder o vago controle que ainda se tem). E ainda, uma definição que não poderia encontrar outra melhor:

    "Fundamental é fazer-te possuir tudo que faz ausência em mim."

    Há um apelo, talvez platônico - o amor, mesmo, é platônico... fazer o quê... - mas há também uma noção clara de que o amor como se espera, ou se imagina, é melhor deixar guardadinho onde a decepção - e a vontade de decepcionar-se - ainda não chegou.

    Muito bom, Tati.

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