terça-feira, 26 de maio de 2009

Soneto Blavino nº 8 - Desejo pulsante

Imagem: Milo Manara


Desejo

Sentimento vão
Sorrateiro, difuso

Pensamentos traiçoeiros
Discernimento confuso – recuo,
Recuso, a repulsa parece-me tão certa

mas abundantes hormônios circulantes falam

por si, por mim, por ti, por fim e só
me resta consentir, entregar
meu corpo à vontade

Gritante, ofegante
avalassadora e

Pulsante

Haiku e/ou Poetrix

Imagem: Steve Adams


1.
Descobri minhas dúvidas
Agora sinto Frio
No Saber.



2.
Não quero saber-me por dentro.
Estranhas entranhas me causam tormento.
Nem quero saber-me por cima
Olhando de perto ninguém me imagina.
Prefiro o saber-me do mundo da rima.



3.
Lesmas me deixam rastros de gosma.
Ontem os li – PS: Estive aqui!
Lesmas só lesmeiam quando estou olhando.
A velocidade da lesmitude me fascina!



4.
O casulo vazio expõe
A verdade eclodida
A Vida é um vôo.

Fruindo




(Mantive a montagem, pois não consigo centralizar os textos no meu blog - não aparece a opção - então, se a visibilidade for dificultada, avisem que eu posto o texto separadamente, ok?)

Embrulho















A cada dia mais embalada
Disfarço as marcas da vida
O que trago em mim? É nada
Só me deixe/ bem/ envolvida.

Três camadas de plástico-bolha
E o meu orgulho ainda ruindo
Se meu papel fosse feito de folha
Eu, na certa, estaria sumindo

Hoje é um dia duro, daqueles
Em que o mundo real me evita
Vou refazer-me o belo embrulho
Preciso de um laço de fita!

Poeta in Box






Imagem: Steve Adams




--------Rimamétrica--------
Pensar – medir – cortar
Sentir?
Nem tudo cabe na caixa
Pensamentos adestrados
Cortar – mentir – trocar
Meias palavras
Meras palavras
Sentimentos descartáveis
Incabíveis
Dosar - partir
Cortar – servir – Gritar!
Palavras mudas
Inauditíveis
Nuances nuas
Imperceptíveis
Generalismo absurdo
Malabarismo abstrato
Relato correlato
Um recorte – um retrato
O poeta não se encaixa
Nem tudo cabe na caixa.


(a poesia original acabava de forma um pouco diferente. Em lugar dos 2 últimos versos, havia apenas 1 - "O poeta não cabe na caixa" - vou esperar os comentários pra decidir se mantenho esse formato ou o anterior)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Quero

Quero ser um elefante branco

Quero ter o amor mais raro de todos os mundos

Quero cantar o canto mais belo e ressoar no ouvido das almas

Quero ser profeta e anunciar boas novas

Quero nunca mais de tristeza chorar

Quero repousar entre as nuvens, deitado numa rede celestial

Quero novamente brincar, poder sem remorsos sorrir

Quero voltar para o ventre de minha mãe e não sentir mais frio

Quero beber água da fonte do mais puro manancial

Quero ser livre para pintar o céu da cor que quiser e o arco-íris de amarelo

E quero, mais do que tudo, mergulhar no oceano do meu próprio coração

E nunca mais voltar...

Teatro de Máscaras

Dirijo um teatro de máscaras.

Nele, sou o ator principal.

Meu palco é o além-eu.

Minha máscara é o plural imperfeito,

O incerto transmutável.


Se desejo-me poeta, sou tristeza.

Se almejo a tristeza, sou negligência.

Se busco a negligência, sou sorriso.

E se quero só um sorriso, eu gargalho!


Oh, máscara da morte,

Que veste a máscara da vida,

Que veste a máscara do simples,

Que veste a do complexo,


Antes que me deixe nua a face,

Com tuas incógnitas cores,

Permita-me encenar o grande final

Portando a mais bela,

Aquela que é incondicional e plena,

Absoluta e irreversível:

A máscara do amor.

Aliás,

Será uma máscara?

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Quase Pronto

Quase Pronto

espreita...

Que as palavras venham,
Despertem as dobras
Onde algo resta
E se deita sem nome
Nem sentido.

E deslizando livres,
Feito cócegas,
Ericem cores, poros,
Papilas e pelos.

Façam ponto em cada ponto
- seco ou indisposto -
Do poema à espera
De corpo ou esboço
Nesta página, campo
E pouso
De meus silêncios e feras à espreita


* nota este poema está em construção, ainda. Por isso quase pronto.

Fiz uma modificão, apenas, mas pretendo fazer outras. Enquanto é minha vez, posto o que for modificando.

Neste momneto ele está assim



Que as palavras venham,
Despertando as dobras.
Há algo deitado
Resto sem nome
Nem sentido.


E deslizando livres,
Feito cócegas,
Ericem poros, dores
Papilas e pelos.

Façam ponto em cada ponto
- seco ou indisposto -
Do poema à espera
De corpo ou esboço
Nesta página, campo
E pouso transitório
Dos silêncios sob a vigília
De minhas feras à espreita.


quero modificar mais.

Chiaroscura

gatoescondecabeça

now a lay me down, by littlerottenrobin

Um olhar seco diminui o brilho
Verde lúbrico
E um frio
Avisa - a dor é Clara

O corpo crispado,
Ela me olha de lado
E no passo a passo cuidadoso, lá vem ela
- Mal estar em silêncio -
Senta tensa ,
Bem na frente santa
De minha angústia

E quase me acalma,
Não fosse o repuxo no couro,
O estremecimento mudo
No rajado do pelo, a dor do mundo

Em movimento desastrado,
Sua fragilidade a faz sem graça,
Sem cálculo
Derrubando copos, saltando errado

E se o sofrimento é imenso,
Nós duas sabemos,
O único jeito é se esconder pelos cantos
Evitar encontros,
Constrangimentos

Minha gata não me quer longe,
Nem muito perto
Ela me quer alerta,
Velando a madrugada,
Fazendo-lhe o carinho mais leve,
Sem palavras nem um pio!

Logo a bem-te-vi virá
Piar bom dia em liberdade,
Enquanto ela é predadora domesticada,
E aguenta aborrecida
Toda a alegria dessa pássara
Recém-desperta,
Mostrando a cria e asas frescas

Mas ela sabe esperar
O rasgo prestes a sangrar
Agora? Ainda não.
Encolhida, entre o final da noite e o começo da alvorada,
Ela me olha

Um palmo nos separa,
O genoma nos diferencia
Felina, tão sábia,
Quanto mais sofre menos mia

Eu, humana, quando me dói a alma
E o corpo agita ,
Reclamo em gemidos, faço conflito com a vida
Apago verdes, congelo os sentidos
E disparo avisos
De frio e dor escura

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Sina

KONICA MINOLTA DIGITAL CAMERA

O dedo indicador
- Trapaceiro -
Brinca
Enroscado no cabelo

Tem sido ele o inimigo afiado
Da mão esquerda enervada
Por fábula sem fada nem fala

É dedo e é garra aferrados à palavra
Até que o sino da meia-noite toque

Não há sinos, aqui

São três e dez.
Os gatos escutam,
No canto de um galo insone,
Minha espera

-

-

-


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Natureza Morta, Cruel e Tarja Preta

________Natureza Morta __________________________________________

Três laranjas e uma pêra


Verdes no vazio da fruteira,
Prenunciam vida na natureza
Morta sobre a mesa
À espera da alegria
De uma nova feira
__________ _____________________Cruel


Acordei uma aranha, hoje.


Levantei escura e fria
Espirrei veneno
Logo cedo
Na abelha benfazeja
Ela agonizava,

E eu? Bebia
Mel e morte
No primeiro café do dia
___________________

Tarja Preta __________


À margem da tarja,
Age a preta metade
Da tarde forjada
Por nervos frágeis


 



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domingo, 3 de maio de 2009

Três poetrix

Solução


 

a vida, em papel, repetida

diluem-se, cá e no mar,

a original e a de tinta


_________



De poetas e cães



o que quer dos poetas a eternidade

é o que espera dos cães a noite:

que uivem


_________



Anatomia


 

o verniz gasto das horas

o silêncio e o vazio

eis o coração das letras




Fera (Vermelho-gente)



 

tinge-te, fera, de vermelho-gente

quente troféu vivo de tua caça

dure a tua raça, fera, eternamente

 

rola e delicia-te, fera, sente

gente parda, preta ou pálida

retalhada, é rubra inteiramente

 

caça, persegue, retalha, devora

 

sê por dentro e por fora, inteira, vermelho-gente 





Sussurros





que mais a tua vida
além de sussurros
e o emprego lhes dá
s?

urge que saiam de ti
abandonem-te à sorte
vivam sem teus dissabores

são livres, mais que tu, e ainda

que te enfureças, não te pertencem



A bolha


há em mim uma bolha

 

resistente aos segredos

às dúvidas e ao destino

ao sufocante espaço que lhe designei

entre as verdades incontestáveis

 

mantém esse corpo vivo

cobrem-na a carne e as lembranças

cobrem-na por todos os lados

amoldou-se de dentro para fora

 

se de vazio ou

de incompletude ou

de infinito é repleta não sei

ignoro seu conteúdo

 

nasceu comigo

não aumenta

não diminui

mas está-se degradando

 

não provoca dor nem prazer

nem faz bem ou vicia

nem modifica coisa alguma

nem tampouco se manifesta

 

incita-me a perscrutar

sua superfície que já foi lisa

temo que seu desejo

seja finalmente romper-se

 

às vezes escapa-me

aos poucos cuidados que lhe dedico

desliza sem ser notada

assume uma nova forma

 

cobre-se de atrevimento

veste-se com paixão

tira-me o sono e se exibe

não raro me desacomoda

 

só assim quando foge

quando não em mim

nem nela ou em pensamento

vejo-a inteira, como de fato é

O chão verdadeiro



 

o chão ruiu

abriu-se a terra em galerias, labirintos

uma teia infinita de túneis

 

não deixou de ser o mesmo chão duro

que gera a vida, a imundície

o pó

 

descobriu-se

sem qualquer pudor

para promover a revolta em ânimos e estômagos

 

não sangrou como dizem que sangra

ou gemeu ou fez qualquer menção

de dor

 

bastou-lhe

para causar tamanho desespero

escarrar em todos a ignorância do perigo

 

sob o chão que erigimos a totalidade das coisas

havia um outro, mais verdadeiro

ainda que oco