o chão ruiu
abriu-se a terra em galerias, labirintos
uma teia infinita de túneis
não deixou de ser o mesmo chão duro
que gera a vida, a imundície
o pó
descobriu-se
sem qualquer pudor
para promover a revolta em ânimos e estômagos
não sangrou como dizem que sangra
ou gemeu ou fez qualquer menção
de dor
bastou-lhe
para causar tamanho desespero
escarrar em todos a ignorância do perigo
sob o chão que erigimos a totalidade das coisas
havia um outro, mais verdadeiro
ainda que oco
e, claro... no final, a resposta: do que é feita a bolha? de onde ela vem? desse outro chão que subjaz, perigoso, imundo, mas verdadeiro em sua vacuidade... pura bolha, puro vazio apenas circunscrito, puro borbulhar de energia (psíquica!)que transborda pelas mãos do poeta, refém apenas, desse si-mesmo de si apartado...
ResponderExcluirprá variar, mr.v, uma delicia de coletânea! parabens!
Havia um outro mais verdadeiro que oco. Bela sacada, boss.
ResponderExcluirA bolha estava cheia de fantasma! Não deixa de ser um núcleo que pode derramar;)
Que derrame em palavra poética.
"Havia um outro mais verdadeiro AINDA QUE oco", Bea... é diferente: é oco, PORÉM, é verdadeiro, mais verdadeiro que o outro chão, esse em que alicerçamos tudo, ignorando o perigo.
ResponderExcluirO que há sob os alicerces (da nossa vida, da nossa personalidade, das nossas crenças...)?
Este poema me faz pensar na dualidade entre o que é, ou fazemos, real e aquilo que está além, algo transcendental.
ResponderExcluirUm interpretação possível vai ao encontro da espiritualidade, da religião. O chão que se desfaz é o que fazemos de nossa vida e, quando ela desmorona, há ainda um outro chão, o verdadeiro, que seria Deus, um messias, o além-vida...
Uma outra interpretação seria mais literal... O chão (a natureza) é recoberto pelas construções humanos. Em meio a um desastre natural (terremoto, por exemplo), as construções humanas se vão e fica apenas o chão que está mais abaixo, escondido, o verdadeira, a natureza crua e bela.
Enfim, por essas possíveis visões fica mais que evidente a potencialidade metafórica do poema.
Um ótimo resultado!