domingo, 3 de maio de 2009

O chão verdadeiro



 

o chão ruiu

abriu-se a terra em galerias, labirintos

uma teia infinita de túneis

 

não deixou de ser o mesmo chão duro

que gera a vida, a imundície

o pó

 

descobriu-se

sem qualquer pudor

para promover a revolta em ânimos e estômagos

 

não sangrou como dizem que sangra

ou gemeu ou fez qualquer menção

de dor

 

bastou-lhe

para causar tamanho desespero

escarrar em todos a ignorância do perigo

 

sob o chão que erigimos a totalidade das coisas

havia um outro, mais verdadeiro

ainda que oco

 


4 comentários:

  1. e, claro... no final, a resposta: do que é feita a bolha? de onde ela vem? desse outro chão que subjaz, perigoso, imundo, mas verdadeiro em sua vacuidade... pura bolha, puro vazio apenas circunscrito, puro borbulhar de energia (psíquica!)que transborda pelas mãos do poeta, refém apenas, desse si-mesmo de si apartado...

    prá variar, mr.v, uma delicia de coletânea! parabens!

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  2. Havia um outro mais verdadeiro que oco. Bela sacada, boss.
    A bolha estava cheia de fantasma! Não deixa de ser um núcleo que pode derramar;)
    Que derrame em palavra poética.

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  3. "Havia um outro mais verdadeiro AINDA QUE oco", Bea... é diferente: é oco, PORÉM, é verdadeiro, mais verdadeiro que o outro chão, esse em que alicerçamos tudo, ignorando o perigo.

    O que há sob os alicerces (da nossa vida, da nossa personalidade, das nossas crenças...)?

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  4. Este poema me faz pensar na dualidade entre o que é, ou fazemos, real e aquilo que está além, algo transcendental.

    Um interpretação possível vai ao encontro da espiritualidade, da religião. O chão que se desfaz é o que fazemos de nossa vida e, quando ela desmorona, há ainda um outro chão, o verdadeiro, que seria Deus, um messias, o além-vida...

    Uma outra interpretação seria mais literal... O chão (a natureza) é recoberto pelas construções humanos. Em meio a um desastre natural (terremoto, por exemplo), as construções humanas se vão e fica apenas o chão que está mais abaixo, escondido, o verdadeira, a natureza crua e bela.

    Enfim, por essas possíveis visões fica mais que evidente a potencialidade metafórica do poema.

    Um ótimo resultado!

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