há em mim uma bolha
resistente aos segredos
às dúvidas e ao destino
ao sufocante espaço que lhe designei
entre as verdades incontestáveis
mantém esse corpo vivo
cobrem-na a carne e as lembranças
cobrem-na por todos os lados
amoldou-se de dentro para fora
se de vazio ou
de incompletude ou
de infinito é repleta não sei
ignoro seu conteúdo
nasceu comigo
não aumenta
não diminui
mas está-se degradando
não provoca dor nem prazer
nem faz bem ou vicia
nem modifica coisa alguma
nem tampouco se manifesta
incita-me a perscrutar
sua superfície que já foi lisa
temo que seu desejo
seja finalmente romper-se
às vezes escapa-me
aos poucos cuidados que lhe dedico
desliza sem ser notada
assume uma nova forma
cobre-se de atrevimento
veste-se com paixão
tira-me o sono e se exibe
não raro me desacomoda
só assim quando foge
quando não em mim
nem nela ou em pensamento
vejo-a inteira, como de fato é
que bonito, isto, mr.v! interessante... estou lendo assim: os poetrix falam do ser-poeta, que é movido por um desejo vermelho-gente, que usa o corpo pra emitir sussurros, que vêm... da bolha! ah, essa bolha sempre quer estourar... mas não estoura... cresce, muda, toma cores como se de sabão fosse feita... essa bolha, é vc!
ResponderExcluirA bolha eu acompanhei até o verdadeiro chão.
ResponderExcluirVc tem imagens assustadoras. Gosto da intensidade e da forma corajosa com que vc a coloca.
Coisa bacana de ver, Fuerte!
Que tremenda auto-analise faz este eu-lírico, hein?
ResponderExcluir"Há em mim uma bolha"
Condensa tão bem a idéia da busca eterna e infinita pelo autoconhecimento.
Melhor deixar a bolha apenas sê-la, assim, incógnita, fazendo da curiosidade de sabê-la, forte impulso para a própria existência.
Esta idéia me guiou, sustentada por diversos versos como: "ignoro seu conteúdo"
E assim por diante... até que, do meio ao fim do poema, surgem versos, um tanto contraditórios, que muito me instigaram:
"mas está-se degradando"
"nem tampouco se manifesta"
Até que surge "não raro me desacomoda"
E a última estrofe,concordando com aquilo dito anteriormente... o que a bolha guarda?
A bolha traz, em si e por si, questões indissolúveis, inquietantes e por vezes encantadoras - um misto de coisas que ao emergir do âmago do ser podem ser traduzidas como 'inspiração'.
Fiquei inspirada - minha bolha moveu-se!
Abraços
Hum... essa bolha... sei não... De início, achei que fosse algo como uma personalidade de isolamento, que bloqueia o eu-lírico de envolver-se com o mundo. Mas, depois, mais ao fim, parece que a tal bolha está mais para uma "essência"...
ResponderExcluirEnfim, de uma maneira ou de outra, o poema traz boas imagens. É uma construção elaborada, com palavras bem escolhidas e ritmo acertado.
Mais um belo resultado, V.