sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Anonimato

O inatingível é.
Consciência ou falta.
Valor. Querer. Questões.

Não importa, é impressionante.
De novo e de novo...

Você está aqui?
Pra dizer coisas.
Estilo é uno continnum
Pedra.
Ser pedra.
Mas convencer-se é demais.
Que houve?
intriga, trama e contra ataque.

Como ver o que já vira antes
como ver o espelho.
Só não existe ser quem não é.
Você é?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

enxurrada





nada se faz com a luz
a chuva vai continuar caindo
o Todo mantém seu movimento
e os átomos partirão sem saudades
dos corpos que sustentaram

ainda restará o tempo
as horas marcadas na via pública
um bueiro ou outro regurgitando
as mazelas de uma enchente
os dejetos da vida alheia

verbos e versos prolixos
linhas barrentas quase
na altura do forro
a oratória e a sofisticação
dentro e fora das casas

nada se faz com a luz
há sol e é dia outra vez
que fim tem essa aurora
e o tempo novo dado, assim
gratuitamente?
prefiro, antes, a enxurrada



sábado, 26 de setembro de 2009

Quisera eu!

Quisera viver
Sem diploma precisar
Ter pão pra comer
Sem me perturbar
Fazer o que sei
O que gosto
E a sabedoria perpetuar
O que a vida ensinara
A mesma trata de aperfeiçoar
Quisera eu
Continuar alma nobre
E não desfalecer de chorar.

O que nos castelos aprendera
Desaprendera na volta ao lar
Dos valores oportunos, utopia
Dos desagradáveis, ficção.
Afronta, maltrata e massacra coração.

Se acordo
Sou merda mental
A falsa ciência
Porra nenhuma de intelectual

Falo feio, penso torto
Nada escrevo
Sólo soy âmago morto.

Quisera eu
Viver-me ao guardar-me por dentro.
Quisera eu.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

transparências

luz baça de manhã nublada

na quase primavera
as palavras ficam assim
distorcidas de vítreos efeitos
tão translúcidas e brancas
que ninguém pode dizê-las

mas o olhos
seres autônomos e encantados
movem-se como bússolas, imantados,
e captam o brilho oculto das estrelas

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Lago

O Lago, Tarsila do Amaral, 1928.

Perto de onde moro
Há um lago
Nado, mergulho
vejo sentimentos
coisas escondidas
emaranhados
e a água turva

Vejo a mim
um garoto jovem
que pouco sabe
mas sonha
gradiosas
Feliz, se devaneia
e vive intensamente

Ora enegrece
e pela água turva
surge flutuando um velho
é a própria morte - doentia
traz consigo a Tristeza
e o redor desseca
eu também, me encolho e choro

As estrelas vêm
se entapetar na superfície
são gotas brancas n'agua negra
reluzentes, lindas
eu as toco com
a ponta dos dedos
e engelece meu corpo

Caminho pelo água
de mãos dadas
com um vulto
vou e venho
no farfalhar da maré
canto o amor
a noite, o lago me renovam

O lago cochicha
em meus ouvidos
me mostra tudo
sou uma parte dele
ele parte de mim
entrelaçados, partimos
somos um vivendo noutro.

2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Nada

por Ju Blasina

Imagem: Federica



Guardo relógios parados

E no silêncio repousa o tic-tac eterno
Guardo calendários antigos
E já desfolhados
Meus dias passam invisíveis

Benditos grilhões metafóricos!
Trago-os sempre comigo
Em segredo

Tento prender-me ao tempo
Ao fechar dos olhos
Vejo o passar dos dias distantes
Latentes, num breve lampejo
A incerteza me congela

Interminável... Suspiro

Temo perder-me no tempo. Só
A ânsia palpitante me remete
À vidas (mal) passadas
E a dor que ancoro ao peito
Tanto aperta que me aporta

Vago neste intrépido mar revolto
Movido ao sabor das dúvidas
Tão salobras

Sem sentido
Vou seguindo
Levado a esmo
Temo por nada
Ser um dia

(Longínquo — Espero)

Ao completar a rota cíclica
E encontrar — triste — certeza:
Nada é tudo

E nada mais é que
O que restou por fim
O que sobrou de mim (?)

Temo por nada

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Meu bandido, eterno namorado- Giselle Sato


Mãos


Em cada toque desperta.
Gozo arrastado
Fúria disfarçada
Amado
Descarado. Gato vadio.
Cão sem dono.
Surge de repente.
Como se o tempo não existisse
Sem regras.
Conceitos.
Preconceitos.

Ah! Eu te adoro.
Meu bandido, eterno namorado.


Boca


Rendição
Delicias
Reentrâncias
Gostos
Sabores
Partilhados

Palavras perdidas, promessas, planos e poesias...
Não me interesam!
Me basta a certeza da sua boca.
Toda vez que voce me beija.


Negue. Indeciso
Distante.Inconstante
Um instante. Dois segundos...
A vida inteira correndo diante de nós...
Em uma única noite.



Olhos


Teu olhar apaixonado
perdido...

Meus olhos perdidos
nos seus

Nossos corpos nus.
Perdição.

O coração perde o compasso.

Nas infinitas vezes em que me perco.
Dentro de você.

Luzes- Giselle Sato





O que existe por trás das palavras contidas? Apreço!
Desprezo sem preço.... Perguntas sem resposta.
Marcas do tempo, dores que o vento soprou distante.

Cinzas do passado. Descompasso em passos. Pesados fardos.
Ao largo pendia a estrada, mas há muito me desvencilhei dos sonhos.
Cheirando a terra molhada e coisas guardadas. Perdida vida!

Confronto em despedidas, emoções corroídas, alquebradas...
Pincelando gotas de esperança, sorvi a poesia em forma de saudade.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Insônia

Caio Rudá de Oliveira

Um desassossego à noite me veio qual peça de arte.
Não me concentrava senão no balançar
da cortina ao vento, uma rubra pintura expressionista
em penumbra, cena fatídica de filme noir.
Desconfiei de contratempos em sol na bexiga,
minha mera gaita de foles desafinada.

Romance meu sem início nem fim,
somente acompanhado meio repentino,
a concepção sorrateira desse poema.



segunda-feira, 6 de julho de 2009

Rubro rumor



De um lado,
A janela quadrada
Recorta um céu mudo
Sem graça e cor de chumbo

De outro lado,
Beiral, rouxinol
Telhado e flor
Tomam sol e convidam
Ao poema latente
Na cena ideal e tão possível
Que nenhum verso inspira

De frente,
O horizonte rubro
Guarda um murmúrio
Sobre o muro da linguagem
Que se precipita
Na dimensão da frase
E desliza em imagem
Esticada entre o nada e o texto
- Na boca do precipício -

Vertigem das palavras itinerantes
Escapando pelo fundo em que me abismo

Imagem:Tulip, porSlippery Devil

₢ Beatriz M. Moura
Compulsão Diaria
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pessoal: estou em férias mas para não quebrar a ordem de postagem deixo meu poema.
em função das férias não comentarei os poemas.
Abraços gerais
Bea

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dádivas on R.E.M

São sonhos límpidos...que esfacelam-se em dureza brutal
O renome desconhecido, aquele homem-monstro, tão mau
E dúvidas impróprias, caminhar sombrio, celeiro de porcos
Mas será que, no fim, não estamos todos mortos?

In Memoriam dos tristes sonhos, tristes dias, tristes hábitos
In Memoriam dos meus dias, minha dor e meus próprios atos
Constante afirmação do gênero decadente:
Assinar com sangue o livro dos dias e expansão da mente

Pouco a pouco os elementos queimam
O que restam são cinzas de lástimas sangrentas
O que quer que seja, o que quer que queiram
Não destruam com vis agruras lamurientas

Aos braços de quem me lanço - Adeus!
Aquele o qual me entrego - Morpheus!
Aos poucos dilatantes caem - Meu deus!

Que mudou em mim

Bom, antes do poema em si gostaria de dizer que vou tentar postar essa semana, também, o que tenho experimentado recentemente (Algo mais sintético e concreto - diferentíssimo de um passado próximo, como verão).


Não.
(menti)

Sabendo que, no fundo,
tem um pouco de Amèlie.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Funeral marítmo

grito

um gosto salgado
nauseante
chega-me aos cantos da boca
alguém à bordo morreu

por um vento inconcebível
vago à deriva
jogado pelas correntes
possivelmente louco,
temeroso, mas ciente do meu destino
renego os nomes que carrego
e na ciência da vontade que me habita
agarro-me ao silêncio
o pouco dele que ainda me resta

o meu silêncio não é só
à hora de dizer, nada
a boca salgada e a voz calam
o coração das coisas não ditas
pulsa ainda, vivo, feliz
porque o realizado
tem o infortúnio de existir
somente se está morto

ao meu silêncio fazem companhia
as ditosas frases esperançosas
e mesmo as esperanças
felizes, livres de vir ao mundo
pois não há quem as julgue
ou rejeite

mais delas estariam vivas
se ninguém as proferisse
ou quisesse pôr fim às dores alheias
mas alguém à bordo morreu

não lhes acendo velas
nem lhes guardo a cabeceira
do leito derradeiro
não as limpo
nem as visto com uma mortalha digna
- mereciam, mas não o faço -
pobres defuntas
desperdiçadas

consola-me apenas
lançá-las ao mar
deixar que essa imensidão decida
que rumo tomarão
submergirão, esquecidas
ou consumidas pelas coisas inomináveis
que fazem com que tudo aquilo que cai no mar
torne-se, vivo ou morto,
também o mar

consola-me o mar
meu silêncio não está só
sei, pois carrega as pobres mortas
e o vento, outra vez, leva-me adiante

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Declamação do quase amor

Um dia éramos sós
A sonhar com aquele rio
Atravessávamos oceanos
Em mente, somente...
Sonhávamos com o turquesa.
O tom de nossa pureza,
Fazia-nos esplêndidos sobre
O Danúbio azul.

Éramos sós,
Adventícios, amantes
E desconhecidos.
Declamando os males
Que a paixão trouxera,
Invocando o amor
Ou algo mais puro,
Ingênuo e intenso
Quiçá Fiel
Mas verdadeiro.

Declamo o quase amor
Para assim criarmos asas
Juntos, dois cisnes
Brancos como o véu.
A grinalda: o juízo.
Equilibrando-nos
Ao nadarmos,
E Amarmos-nos
No Danúbio azul.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Estréia

A minha estréia aqui no Estúdio coincidiu com a semana do Dia dos Namorados e do Santo Casamenteiro, padroeiro de minha cidade. Decidi, por isso, trazer 3 poemas de amor – cada um escrito em uma época da minha vida, o que evidenciará não só abordagens distintas do tema, como também a trajetória da minha poesia.

Evidências do amor


Ela perguntou se ele a amava.
Ele disse que sim e ela, que não acreditava,
mesmo reconhecendo
que aquela era, de fato, a verdade.
Mas não faria qualquer diferença
se verdade aquele fato não fosse...
Se não a amava,
ao menos fingia com total perfeição.
E que diferença há entre uma paixão de verdade
e uma que se finge até com o coração?
Sim, porque o coração dele gostava dela
- somente com ela acelerava daquele jeito.
Sabia fingir realmente o danado!
E ela sabia que não se há como ser perfeito
quando se mente que se está apaixonado.
E o abraçava na certeza de que era amada
- porque se pode dissimular com palavras,
mas contra as evidências do amor não há nada.


Escrito e engavetado há mais de 15 anos. Jamais divulgado.

Fim da festa


Há uma solidão tão minha
que até de mim se disfarça
quando estou sozinha.
E não passa
onde quer que eu esteja,
porque sempre me segue
sem que eu sequer a veja.
Ela está aqui,
escondida,
mas quase despercebida
num beijo de amor.
É quando quase alcanço o céu...
... e de lá me assombro!
Quanto mais fantasio,
maior o vazio,
pior o tombo;
pois não há amor
sem alguma expectativa,
nem há expectativa
sem alguma dor.
Ilusão...
Desilusão...
É sempre o que resta.
A solidão é o fim da festa.
Quando muito,
há paetês no chão.
Ao menos sei
que é assim
e guardo pra mim
essa lucidez nas mãos.


Escrito em 2004. Foi um dos quinze poemas selecionados no IV Prêmio Literário Livraria Asabeça - Poesias, Contos e Crônicas, realizado em 2005, pela Scortecci Editora. Integra a respectiva antologia e o site http://poemadia.blogspot.com.

Minudências


Os dias se sucedem
sem que os lábios sequem...
Você me bebe
e eu lhe bebo
no desassossego
dos pequenos goles.
Em lentidão,
você me percebe
e me descobre,
eu lhe percebo
e lhe descubro
na vastidão
de cada detalhe.
Sei que busca
da minha alma
o talhe;
sabe que busco
da sua,
o matiz.
Você me beija
e eu lhe beijo
dando a diretriz.
E criamos elos
entre o que há de gestos
e o que se diz.
As verdades vêm
em medidas.
Não vive o amor
das minudências sentidas?


Escrito em 2007. Obteve, em 2008, o 3º lugar geral na 2ª edição do Concurso Internacionalizando o Jovem Escritor.

terça-feira, 2 de junho de 2009

blocos


blues

na imensidão escura da noite
escondo meus sonhos transformados

fica, assim, todo o céu pontilhado
de constelações de palavras ditas
que a mão do tempo torna escritas

por desejo ou mágica caem os versos
sobre a superfície desse mar que invento

e os reflexos do poema sobre as águas
tingem com tons de azul os sentimentos

indriso

ainda agora ontem era a hora
e, por mais que tanto houvesse,
nada via do que acontecia

só depois de ir-se embora
é que, no vazio da realidade,
brotou um pé de saudade

entre espinhos de melancolia

nasceu uma flor de amizade

terça-feira, 26 de maio de 2009

Soneto Blavino nº 8 - Desejo pulsante

Imagem: Milo Manara


Desejo

Sentimento vão
Sorrateiro, difuso

Pensamentos traiçoeiros
Discernimento confuso – recuo,
Recuso, a repulsa parece-me tão certa

mas abundantes hormônios circulantes falam

por si, por mim, por ti, por fim e só
me resta consentir, entregar
meu corpo à vontade

Gritante, ofegante
avalassadora e

Pulsante

Haiku e/ou Poetrix

Imagem: Steve Adams


1.
Descobri minhas dúvidas
Agora sinto Frio
No Saber.



2.
Não quero saber-me por dentro.
Estranhas entranhas me causam tormento.
Nem quero saber-me por cima
Olhando de perto ninguém me imagina.
Prefiro o saber-me do mundo da rima.



3.
Lesmas me deixam rastros de gosma.
Ontem os li – PS: Estive aqui!
Lesmas só lesmeiam quando estou olhando.
A velocidade da lesmitude me fascina!



4.
O casulo vazio expõe
A verdade eclodida
A Vida é um vôo.

Fruindo




(Mantive a montagem, pois não consigo centralizar os textos no meu blog - não aparece a opção - então, se a visibilidade for dificultada, avisem que eu posto o texto separadamente, ok?)

Embrulho















A cada dia mais embalada
Disfarço as marcas da vida
O que trago em mim? É nada
Só me deixe/ bem/ envolvida.

Três camadas de plástico-bolha
E o meu orgulho ainda ruindo
Se meu papel fosse feito de folha
Eu, na certa, estaria sumindo

Hoje é um dia duro, daqueles
Em que o mundo real me evita
Vou refazer-me o belo embrulho
Preciso de um laço de fita!

Poeta in Box






Imagem: Steve Adams




--------Rimamétrica--------
Pensar – medir – cortar
Sentir?
Nem tudo cabe na caixa
Pensamentos adestrados
Cortar – mentir – trocar
Meias palavras
Meras palavras
Sentimentos descartáveis
Incabíveis
Dosar - partir
Cortar – servir – Gritar!
Palavras mudas
Inauditíveis
Nuances nuas
Imperceptíveis
Generalismo absurdo
Malabarismo abstrato
Relato correlato
Um recorte – um retrato
O poeta não se encaixa
Nem tudo cabe na caixa.


(a poesia original acabava de forma um pouco diferente. Em lugar dos 2 últimos versos, havia apenas 1 - "O poeta não cabe na caixa" - vou esperar os comentários pra decidir se mantenho esse formato ou o anterior)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Quero

Quero ser um elefante branco

Quero ter o amor mais raro de todos os mundos

Quero cantar o canto mais belo e ressoar no ouvido das almas

Quero ser profeta e anunciar boas novas

Quero nunca mais de tristeza chorar

Quero repousar entre as nuvens, deitado numa rede celestial

Quero novamente brincar, poder sem remorsos sorrir

Quero voltar para o ventre de minha mãe e não sentir mais frio

Quero beber água da fonte do mais puro manancial

Quero ser livre para pintar o céu da cor que quiser e o arco-íris de amarelo

E quero, mais do que tudo, mergulhar no oceano do meu próprio coração

E nunca mais voltar...

Teatro de Máscaras

Dirijo um teatro de máscaras.

Nele, sou o ator principal.

Meu palco é o além-eu.

Minha máscara é o plural imperfeito,

O incerto transmutável.


Se desejo-me poeta, sou tristeza.

Se almejo a tristeza, sou negligência.

Se busco a negligência, sou sorriso.

E se quero só um sorriso, eu gargalho!


Oh, máscara da morte,

Que veste a máscara da vida,

Que veste a máscara do simples,

Que veste a do complexo,


Antes que me deixe nua a face,

Com tuas incógnitas cores,

Permita-me encenar o grande final

Portando a mais bela,

Aquela que é incondicional e plena,

Absoluta e irreversível:

A máscara do amor.

Aliás,

Será uma máscara?

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Quase Pronto

Quase Pronto

espreita...

Que as palavras venham,
Despertem as dobras
Onde algo resta
E se deita sem nome
Nem sentido.

E deslizando livres,
Feito cócegas,
Ericem cores, poros,
Papilas e pelos.

Façam ponto em cada ponto
- seco ou indisposto -
Do poema à espera
De corpo ou esboço
Nesta página, campo
E pouso
De meus silêncios e feras à espreita


* nota este poema está em construção, ainda. Por isso quase pronto.

Fiz uma modificão, apenas, mas pretendo fazer outras. Enquanto é minha vez, posto o que for modificando.

Neste momneto ele está assim



Que as palavras venham,
Despertando as dobras.
Há algo deitado
Resto sem nome
Nem sentido.


E deslizando livres,
Feito cócegas,
Ericem poros, dores
Papilas e pelos.

Façam ponto em cada ponto
- seco ou indisposto -
Do poema à espera
De corpo ou esboço
Nesta página, campo
E pouso transitório
Dos silêncios sob a vigília
De minhas feras à espreita.


quero modificar mais.

Chiaroscura

gatoescondecabeça

now a lay me down, by littlerottenrobin

Um olhar seco diminui o brilho
Verde lúbrico
E um frio
Avisa - a dor é Clara

O corpo crispado,
Ela me olha de lado
E no passo a passo cuidadoso, lá vem ela
- Mal estar em silêncio -
Senta tensa ,
Bem na frente santa
De minha angústia

E quase me acalma,
Não fosse o repuxo no couro,
O estremecimento mudo
No rajado do pelo, a dor do mundo

Em movimento desastrado,
Sua fragilidade a faz sem graça,
Sem cálculo
Derrubando copos, saltando errado

E se o sofrimento é imenso,
Nós duas sabemos,
O único jeito é se esconder pelos cantos
Evitar encontros,
Constrangimentos

Minha gata não me quer longe,
Nem muito perto
Ela me quer alerta,
Velando a madrugada,
Fazendo-lhe o carinho mais leve,
Sem palavras nem um pio!

Logo a bem-te-vi virá
Piar bom dia em liberdade,
Enquanto ela é predadora domesticada,
E aguenta aborrecida
Toda a alegria dessa pássara
Recém-desperta,
Mostrando a cria e asas frescas

Mas ela sabe esperar
O rasgo prestes a sangrar
Agora? Ainda não.
Encolhida, entre o final da noite e o começo da alvorada,
Ela me olha

Um palmo nos separa,
O genoma nos diferencia
Felina, tão sábia,
Quanto mais sofre menos mia

Eu, humana, quando me dói a alma
E o corpo agita ,
Reclamo em gemidos, faço conflito com a vida
Apago verdes, congelo os sentidos
E disparo avisos
De frio e dor escura

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Sina

KONICA MINOLTA DIGITAL CAMERA

O dedo indicador
- Trapaceiro -
Brinca
Enroscado no cabelo

Tem sido ele o inimigo afiado
Da mão esquerda enervada
Por fábula sem fada nem fala

É dedo e é garra aferrados à palavra
Até que o sino da meia-noite toque

Não há sinos, aqui

São três e dez.
Os gatos escutam,
No canto de um galo insone,
Minha espera

-

-

-


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Natureza Morta, Cruel e Tarja Preta

________Natureza Morta __________________________________________

Três laranjas e uma pêra


Verdes no vazio da fruteira,
Prenunciam vida na natureza
Morta sobre a mesa
À espera da alegria
De uma nova feira
__________ _____________________Cruel


Acordei uma aranha, hoje.


Levantei escura e fria
Espirrei veneno
Logo cedo
Na abelha benfazeja
Ela agonizava,

E eu? Bebia
Mel e morte
No primeiro café do dia
___________________

Tarja Preta __________


À margem da tarja,
Age a preta metade
Da tarde forjada
Por nervos frágeis


 



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domingo, 3 de maio de 2009

Três poetrix

Solução


 

a vida, em papel, repetida

diluem-se, cá e no mar,

a original e a de tinta


_________



De poetas e cães



o que quer dos poetas a eternidade

é o que espera dos cães a noite:

que uivem


_________



Anatomia


 

o verniz gasto das horas

o silêncio e o vazio

eis o coração das letras




Fera (Vermelho-gente)



 

tinge-te, fera, de vermelho-gente

quente troféu vivo de tua caça

dure a tua raça, fera, eternamente

 

rola e delicia-te, fera, sente

gente parda, preta ou pálida

retalhada, é rubra inteiramente

 

caça, persegue, retalha, devora

 

sê por dentro e por fora, inteira, vermelho-gente 





Sussurros





que mais a tua vida
além de sussurros
e o emprego lhes dá
s?

urge que saiam de ti
abandonem-te à sorte
vivam sem teus dissabores

são livres, mais que tu, e ainda

que te enfureças, não te pertencem



A bolha


há em mim uma bolha

 

resistente aos segredos

às dúvidas e ao destino

ao sufocante espaço que lhe designei

entre as verdades incontestáveis

 

mantém esse corpo vivo

cobrem-na a carne e as lembranças

cobrem-na por todos os lados

amoldou-se de dentro para fora

 

se de vazio ou

de incompletude ou

de infinito é repleta não sei

ignoro seu conteúdo

 

nasceu comigo

não aumenta

não diminui

mas está-se degradando

 

não provoca dor nem prazer

nem faz bem ou vicia

nem modifica coisa alguma

nem tampouco se manifesta

 

incita-me a perscrutar

sua superfície que já foi lisa

temo que seu desejo

seja finalmente romper-se

 

às vezes escapa-me

aos poucos cuidados que lhe dedico

desliza sem ser notada

assume uma nova forma

 

cobre-se de atrevimento

veste-se com paixão

tira-me o sono e se exibe

não raro me desacomoda

 

só assim quando foge

quando não em mim

nem nela ou em pensamento

vejo-a inteira, como de fato é